Normas

Da Paraíba para o mundo, com amor:

Todo o material publicado nesta página representa o ponto de vista parcial e preconceituoso de um indivíduo do século passado. Se você achar aqui afirmativas que lhe pareçam sexistas, xenófobas, racistas ou, de qualquer outra maneira, ofensivas a seus pontos de vista, pare de ler imediatamente. Ou prossiga, a seu próprio risco. Ou não.

Use antes de agitar: leia as normas do blog e lembre-se: comentários são moderados. Anônimos não serão publicados.

E aproveite que eu sou professor: se você achar que eu posso ajudar, mande um e-mail para mrteeth@ghersel.com.br

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Feliz 2007

Enquanto este velho trem atravessa o pantanal
Só meu coração esta batendo desigual
Ele agora sabe que o medo viaja também
Sobre todos os trilhos da terra
Paulo Simões e Geraldo Roca (Trem do Pantanal)

Este ano me deu vontade de fazer, como no ano passado, um balanço do que eu fiz de positivo, alguns planos para o próximo ano e um belo post de Ano Novo. Mas aí deu preguiça, eu fui tomar uma cerveja e a vontade passou, ainda bem!

Então eu só vou desejar tudo de bom para os meus amigos em 2007, e que possamos nos ver, nos abraçar, brigar e beber juntos mais vezes do que em 2006.

Então, um super Ano Novo pra todos vocês!

Em tempo: a música de abertura, na verdade, se chama 'Sobre todos os trilhos da terra', mas até mesmo o Paulinho, autor da letra, chama de trem do pantanal, como todo mundo conhece, então, quem sou eu pra discutir com ele?

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Extração causa convulsão?

Desculpe o auê,
Eu não queria magoar você
Rita Lee (Desculpe o auê)

A notícia informa que uma menina de três anos teve convulsões e entrou em coma, com risco de morte, após a extração de um dente. Infelizmente qualquer profissional de saúde que administre medicamentos a pacientes está sujeito a um episódio desses. Quando acontece com uma criança, é uma tragédia de proporções extremas. Tentamos, da melhor forma possível, amenizar o sofrimento dos nossos clientes, principalmente quando são crianças, nos dói muito saber que uma delas chorou durante toda a noite com dor.

O problema é que, muitas vezes, os pais deixam para levar o filho ao dentista quando passou trabalho durante a noite, com o guri chorando de dor de dente. Já é uma fase em que raramente o dente pode ser salvo. Não me cabe aqui julgar pais ou a profissional que atendeu a menina, apenas lementar. Por ter chegado a esse ponto. Pelo azar de ter acontecido. Por ter acontecido com uma criança. Eu trabalho com crianças todos os dias, trato seus dentes, sei como é.

Será que foi imprudência da profissional, que usou um anestésico suspenso pela ANVISA? Será que ela não sabia da suspensão? Ou usou o anestésico que estava à mão? Ou não foi por isso o problema?

Só o que eu posso fazer é torcer para que a menina se recupere sem sequelas. E aconselhar aos pais que façam tratamento preventivo em seus bebês, não esperem a cárie, levem o pimpolho ao dentista mesmo antes de nascer o primeiro dente, assim evitam noites mal-dormidas e outros enormes dissabores.

Update

A menina morreu. Nem preciso dizer o quanto eu sinto. A proibição da venda do anestésico era devida a uma imprecisão nas informações do rótulo, ou seja, nada que levasse a um acidente desse tipo. A profissional jura que não administrou mais do que um tubete (1,5 ml, dose normal) e a mãe diz que foram quatro! Se foram mesmo quatro, provavelmente a menina sofreu intoxicação aguda, mas eu não tenho informações suficientes para fazer qualquer afirmação. Reafirmo que tudo o que eu posso fazer é lamentar. Quisera poder fazer mais.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Clientes crentes

Ou, o que três copos de chopp podem fazer pela lucidez de uma mulher

Não entendi o enredo desse samba, amor
Já desfilei na passarela do teu coração
Jorge Aragão (Enredo do meu samba)

Aconteceu ontem: depois de um dia inteirão ralando no consultório, eu e a Respectiva resolvemos considerar mais o clima de fim-de-ano do que o fato de ser terça-feira e fomos tomar um chopp gelado. Escolhemos um pseudo-restaurante que serve comida árabe disfarçadinha (na verdade o forte deles é o delivery, mas também servem - mal - mesinhas na calçada) e demos fim em vários copos, sendo que a Respectiva, que não costuma beber, deletou três.

Como nós reclamamos que um dos choppes não estava muito gelado, no final, a garçonete veio se desculpar. A pobrezinha falava uma imitação do português que nos deixou meio atônitos. Ela tentava explicar que alguns "criente" não entendem que a máquina de gelar nem sempre está bem regulada. Deu-se o diálogo:

Garçonete: - Desculpe o chopp, é que a máquina está meio desregulada...
Respectiva: - Tudo bem, foi só um meio morno, os outros estavam bons.
G: - Tem uns "criente" que sempre vêm aqui que não quer nem saber, dão o maior bafão!
R: - Ué, mas crente bebe chopp?
G: - Ô, é um atrás do outro, e se não tá gelado, é o maior bafão!
R: - Esses crentes devem ser dissidentes, porque, pelo que eu sei, crente não bebe.
G: - Eles bebem sim, e muuuito!

E eu fiquei pensando o que a moça entendeu por 'dissidente'...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Imagens de pensamento

Que nem cometa em noite estrelada
Meu pensamento vai comendo estrada
Almir Sater (Galopada)

Pra vocês não dizerem que estou mentindo:


Perceberam o detalhe? O 'search engine' utilizado pelos dois visitantes deste blog foi o Google Images, que é específico para busca de imagens, né? E porque é que um carioca e um português foram procurar imagens de pensamentos?!?

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

As armas de cada um

E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Chico Buarque (Todos juntos)


Foto: gentileza da leitora Adriana, tnx.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Exercícios gengivais

Nadando contra a corrente
Só pra exercitar
Todo o músculo que sente
Cazuza (Pro dia nascer feliz)

Notícia quente: a ANVISA acabou de descobrir que o uso de anabolizantes aumenta as gengivas! Ora, veja... depois de todos os 'bens' e 'males' que os esteróides anabolizantes causam no corpo humano, descobre-se que causam hiperplasia gengival, a exemplo dos anti-convulsivantes mais usados.

Resultado de uma pesquisa turca, a descoberta é um alerta aos Cirurgiões Dentistas (e no site do JB online, fonte da notícia, está escrito certinho!) para que fiquem atentos a aumentos gengivais durante tratamentos odontológicos.

Na verdade, as gengivas são o destino certo de diversas afecções bucais e mostram sinais claros de várias doenças, mesmo antes de elas mostrarem outros sintomas. Alguns dependentes químicos esfregam a droga na mucosa, causando hiperplasia e hiperemia, o que também pode ser detectado pelo CD.

Enfim, as gengivas não têm músculos mas também podem crescer com o uso de anabolizantes.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O homem, o porco, a lenda

Morreu como um cachorro e gritou feito um porco
Depois de pular igual a macaco
João Bosco (Tiro de misericórdia)

MORRE PORCO DE ESTIMAÇÃO DO ATOR GEORGE CLOONEY

Pois vejam só, o homem tinha um porco como animal de estimação... é realmente um espanto, a mania que os americanos têm de possuir bichos exóticos. Por aqui, teria virado feijoada há muito tempo. Lá, morreu de velho.

Talvez meu próximo animal de estimação seja um boi. Em caso de necessidade, vira churrasco.

- Traz o carvão, Tadeu!

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Reminiscências...

"Eu vou mostrar pra vocês, como se dança o baião
E quem quiser aprender é favor prestar atenção"
Luiz Gonzaga (Baião)

E, por falar em especialização, andei relendo meus escritos antigos e resolvi re-recomendar a meus fiéis leitores a visita a três posts que fiz sobre cursos de especialização, que tinham por título "onde fazer especialização:
  1. O coordenador
  2. A instituição
  3. A equipe

Isso é uma pequena contribuição do tio Teeth à formação dos coleguinhas. Eu não pretendo, com isso, definir normas, mas se eu fosse recomendar um curso ao meu irmão, eu me guiaria por essas normas, é assim que eu penso. Eu não trabalho em pós-graduação se não for desse jeito, então eu não só prego como cumpro essas instruções. Quem quiser aproveitar, sinta-se à vontade, só em saber que eu ajudei em alguma coisa já me deixa feliz.

domingo, 26 de novembro de 2006

Sobre o café e o refinamento

"Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café"
Chico Buarque (Cotidiano)

Eu sou mesmo um bronco. Eu adoro café, mas tem que ser forte, quente, pouquíssimo ou nenhum açúcar e em xícara grande. Coisa de gente do interior. Outro dia, andando pelo supermercado, achei um pacote de um café especial, de terras altas, 100% arábica, grãos selecionados e preço compatível, ou seja, três vezes o custo do pacote que eu costumo comprar.

Como eu gosto de novidade e já me acho meio troglodita, levei o danado pra casa e experimentei.

Achei uma porcaria. Aguado, fraco, com uma cor marrom-claro indefinida, cheiro e gosto de café barato. Está guardado, esperando eu ter coragem de jogar fora uma coisa que custou tão caro. Continuo tomando meu velho café comum, do qual eu gosto muito. Na verdade eu não tenho refinamento de paladar suficiente para apreciar essas coisas, sou capaz de gostar mais de vinho Almadém de 10 reais do que de um Romanee Conti de 3.000 dólares. Então eu continuo tomando o Almadém (ou a minha preferida, a cerveja) e deixo os refinados gastar dinheiro com as coisas finas. Eu, que sou bronco, fico com o 'comunzão', que eu gosto e pago preço justo.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Especialização em Ortodontia

Mas por favor, não me condene por isso não
É tudo tão comercial
Rita Lee (Status)

Eu não queria, mas vou ter que fazer uma propaganda descarada aqui: A moçada lá da UNIDERP, a facu que eu trabalho, está lançando cursos de pós-graduação em diversas áreas da Odontologia. Uma delas é orto, a minha especialidade. Então eu vou colocar aqui o link para maiores informações:

Então a propaganda está feita. Se você pretende cursar especialização, principalmente em orto, dá uma olhada lá.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Fominha

Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Chico (Hino de Duran)

Bandido em greve de fome... parece que o 'Marcola' resolveu facilitar para nós: parou de comer, exigindo alguma coisa que ele não tem direito. Por mim, tudo bem. Economizamos na comida, economizamos o dinheiro que seria gasto pra manter o vagabundo na cadeia. Se ele morrer, não se perde grande coisa, pelo contrário, a seleção natural se encarrega de eliminar da natureza os genes que não prestam.

Deixem o moço em paz, deixa ele morrer de fome, que fica mais barato!

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Lisarb

Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram chefe de nada
Cazuza (Brasil)

Pra quem não entendeu, Lisarb é o nome do país ao contrário. De que país? Do país de vocês, caras-pálidas, que moram aí no Brasil, que nem sabem o que acontece no Lisarb. Veja só: Brasil azul, Lisarb verde:


Ah, você acha que conhece o Lisarb? Não mente que é feio! Responda rápido: qual é a capital de Rondônia? E Roraima? Campo Grande fica em que estado mesmo???

Pois então, o Lisarb é um ilustre desconhecido, ignorado, deixadelado. Não aparece nas pesquisas, não é consultado, não é lembrado, não tem mar, não tem importância. Produz boi, algodão, soja, mas isso é comida. Não produz presidente - a bem da verdade, Jânio Quadros nasceu aqui perto... mau exemplo.

Acho que eu exagerei no tamanho do Brasil. Goiás e Tocantins às vezes mudam de lado.

sábado, 28 de outubro de 2006

Dia do Dentista

Dia de exaltação
dia de orgia
Luiz Tatit (Nosso dia D)

Dia 25/10, quarta-feira, foi o Dia do Cirurgião-Dentista. Aos leitores e amigos que se lembraram e mandaram emelho, meu muito obrigado.

De propósito, eu não escrevi nada. Ia ser covardia, ia parecer que eu estava mandigando uma congratulação desmerecida, mas alguns me mandaram uma mensagenzinha dizendo 'parabéns', e eu ganhei o dia.

Na quinta fui a Sampa. Fazia quase um ano que eu não ia lá, desde a minha defesa de tese de doutorado, que foi em novembro de 2005. Putz, a cidade está mais bonita, mais louca, mais complicada, mais gostosa. Eu adoro Sampa. Será que isso é sintoma de alguma desordem comportamental?

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Dentista do faraó

Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Raul Seixas (Ouro de tolo)

Notícia fresca: foram descobertas tumbas de dentistas no Egito. Dentistas do faraó. Pelo jeito, era gente importante, porque as tumbas eram ricamente adornadas e com locais para oferendas.

Se hoje tem dentista por aí cercando cliente em festa e colocando outdoor com propaganda, antigamente, pelo menos no Egito, eles eram importantes. A Odontologia sofre com seu passado europeu, tendo sido exercida pelos barbeiros e por todo tipo de picareta, até chegar a se tornar ciência. Nesse ponto o velho continente colaborou com o atraso, pois os árabes já dominavem técnicas cirúrgicas e conheciam medicamentos eficazes, mas eram desprezados por puro preconceito.

Agora prova-se que no Egito, cuja civilização antiga até hoje impressiona por seus feitos, a Odontologia era exercida por pessoas de grande prestígio social, ao ponto de merecerem tumbas elaboradas e próximas à do próprio rei. Leia o artigo inteiro, vale a pena.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Sobre rosas, formigas, tamanduás...

Sobre rosas, formigas, tamanduás...

Rubem Alves

O seu nome era Brasilino Jardim. Brasilino Jardim tinha jardim no nome e jardim no coração. Ele amava todas as coisas vivas, de plantas a urubus. A vida, para ele, era sagrada.

Brasilino Jardim não ia à igreja. As pessoas religiosas temiam por sua alma e se perguntavam: "Ele não sabe que é preciso ir à igreja para estar bem com Deus? Quem não está bem com Deus corre perigo! Deus castiga!"

Brasilino sorria um sorriso manso e perguntava: "Onde está dito, nas Sagradas Escrituras, que Deus fez uma igreja? Todo Poderoso, se quisesse igrejas teria feito igrejas. Todo Poderoso, ele fez o que queria. E o que é que ele fez? Plantou um jardim. E está dito que ele 'andava pelo jardim ao vento fresco da tarde!' Quando estou no jardim sei que estou andando no lugar que Deus ama. Deus ama a vida, o vento, o sol, a terra, a água — coisas que estão no jardim. Mas as igrejas são lugares fechados, abafados. Bichos e plantas não se sentem felizes lá dentro..."

Não freqüentava igrejas mas amava um santo: São Francisco. Porque São Francisco foi o homem que via Deus nas coisas da natureza. São Francisco amava tudo o que vivia e, segundo a lenda, as coisas que viviam o entendiam, tanto que ele pregava sermões aos peixes e aos pássaros. Freqüentemente os animais ouvem melhor que os seres humanos...

Foi então que o Brasilino Jardim resolveu plantar um jardim em homenagem a São Francisco. Teria de ser um lindo jardim, com um canteiro de rosas no meio. E assim foi. Vendo as folhas viçosas das roseiras, a primeira rosa que se abrira e os botões que se abririam no dia seguinte, Brasilino foi dormir contente.

Ao acordar pensou logo no jardim. Queria ver se os botões já estavam abertos. Mas, decepção! O que ele encontrou foi devastação. Durante a noite as formigas saúvas haviam cortado todas as folhas e todas as flores das roseiras. Brasilino ficou muito triste. Resolveu aconselhar-se com um vizinho que tinha um lindo canteiro de rosas floridas.

"O jeito é matar as formigas", disse o vizinho. "Formigas e jardins não combinam. Para as formigas jardins são hortas, coisas para serem comidas."

"Matar as formigas? De jeito nenhum. São criaturas de Deus, como todos nós. Se foi Deus quem as fez, elas têm o direito de viver. Formigas têm direitos..." E com essas palavras deixou o vizinho falando sozinho. "Onde já se viu matar as formigas? São criaturas de Deus. Tem de haver outro jeito..."Pensou: "Se as formigas comeram as roseiras, comeram porque estavam com fome. Não foi por maldade. Se eu der comida às formigas elas deixarão de ter fome e não comerão as rosas".

Dito isso plantou, à volta do jardim de rosas, um anel de cenouras tenras e doces que seriam o deleite alimentar das formigas. Mas as formigas ignoraram as cenouras. Continuaram a comer as roseiras.

"Talvez elas não tenham entendido", ele pensou. "Não perceberam nem que as cenouras são deliciosas e nem que são para elas. Ainda não foram educadas. Se forem educadas para gostos mais refinados não comerão as rosas. Serei um educador de formigas."

E como sabia que a noite é o tempo preferido pelas formigas para cortar roseiras, Brasilino passou a dar aulas às formigas durante a noite, peripatéticamente, no seu jardim. Queria que as formigas aprendessem a gostar gastronomicamente de cenouras e plasticamente de rosas.

O vizinho ficou incomodado com aquele falatório noturno. Foi ver do que se tratava. E se espantou. "Brasilino, você endoidou? Pregando às formigas?" Brasilino respondeu: "São Francisco pregou aos pássaros e aos peixes. E eles entenderam. Pois eu vou pregar às formigas e elas haverão de entender." Mas as formigas não ligavam para a aula do Brasilino. Não aprenderam a lição nova. Formiga continua a ser formiga. Continuaram a cortar as roseiras.

Diante do fracasso da pedagogia, Brasilino se lembrou de um recurso inventado pelos humanos chamado "condomínio". O que é um condomínio? São casas cercadas de muros de todos os lados, com o objetivo de impedir a entrada dos criminosos, que ficam do lado de fora. "Farei o mesmo com as minhas roseiras", ele disse triunfante. Ato contínuo tomou garrafas de coca litro, cortou bicos e fundos, fez um corte vertical ao lado e usou esses cilindros ocos como cintas protetoras para os caules das roseiras. "Agora minhas roseiras estão protegidas! As formigas não entrarão!" Pobre Brasilino! Ele não conhecia a esperteza das formigas. Elas sabem fazer túneis, escalar muralhas, passar por frestas, fazer pontes. E quando ele foi ao jardim, pela manhã, viu que as formigas haviam devorado de novo suas roseiras.

Lembrou-se então Brasilino de uma velha estória que relata o feito de um flautista que livrou uma cidade de uma praga de ratos que a infestava. O que foi que o flautista fez? Simplesmente tocou sua flauta! "Ah! A música tem poderes mágicos! Claro, as formigas não entendem a linguagem pedagógica dos argumentos. Haverão de ser sensíveis à magia da música." Comprou uma flauta e pôs-se a tocar o Bolero de Ravel. As formigas reagiram imediatamente. Sentiram o poder da música. Até os bichos têm música na alma. Começaram a mastigar folhas e rosas ao ritmo da música encantadora.

Com o fracasso da música, veio-lhe, então, uma nova idéia: "Se as formigas não podem ser nem conscientizadas pela palavra e nem sensibilizadas pela música, as rosas podem ser. Assim, vou despertar nas minhas rosas o sentimento da não-violência, da beleza da paz. O pensamento tem poder. Se todas as rosas fizerem juntas uma corrente de pensamentos de paz a energia positiva no ar será tão forte que as formigas se converterão..."

Espalhou, pelo jardim, imagens coloridas de paz. Flores sorridentes. Pôs CDs com música sobre rosas, Strauss, Vandré e Caymmi. Tudo, no espaço do jardim, sugeria paz e não violência. Quem visitasse o seu jardim sentia a energia positiva no ar. Mas parece que as formigas não eram sensíveis à energia positiva de paz. Continuaram a cortar as rosas.

Aí ele começou a ter raiva das rosas. "Não compreendo a passividade das rosas! Elas não se defendem! Tinham de se defender! Pois Deus não dotou as criaturas com o direito de defender a sua vida?"Cobriu então os galhos das roseiras com espinhos pontudos e afiados, facas e espadas que as rosas deveriam usar para se defender das formigas. Mas as rosas não sabiam se defender. Não sabiam usar armas. Eram mansas e desajeitadas por natureza. As formigas continuaram a subir pelos seus galhos sem ligar para os espinhos.

No desespero, Brasilino resolveu tomar uma atitude mais radical, que mesmo contrariava seu sentimento de reverência pela vida: foi para o jardim munido de um martelo e pôs-se a martelar as formigas que se aproximavam das suas roseiras. Mas o número das formigas era imenso. Não paravam de chegar. Matou muitas formigas a marteladas, o que não as perturbou. E havia também o fato de que Brasilino não podia ficar martelando formigas o tempo todo. Precisava dormir. Dormindo, o martelo descansava. E as formigas trabalhavam.

"Já sei!", ele disse. "Apelarei para o Papa. O Papa tem reza forte. Pedirei que ele ore para que as formigas parem de comer minhas rosas" . Escreveu então uma carta para o Papa, expondo o seu sofrimento, e pedindo que ele intercedesse junto aos santos, junto à virgem, junto a Deus... Afinal de contas, as hostes celestiais deviam ter um interesse especial na preservação do jardim, aperitivo do Paraíso.

As autoridades eclesiásticas, de posse da carta de Brasilino, deram a ela a maior consideração, e a colocaram na lista da orações pela paz que o Papa rezava diariamente: paz entre judeus e palestinos, paz entre russos e chechênios, paz entre protestantes e católicos, paz na Espanha, paz na Colômbia, paz no Peru, paz na África... Era uma lista enorme. O Papa orou mas nada mudou. Os homens continuaram a se matar e as formigas continuaram a cortar suas roseiras.

De repente ele ouviu uma voz que o chamava. Era a voz do seu vizinho, que contemplava tudo em silêncio. "Eu tenho uma solução para o seu problema com as formigas, sem que você tenha de matar as formigas."Brasilino se espantou: "Como?"O vizinho explicou: "Você acha que as formigas são criaturas de Deus. Sendo criaturas de Deus têm direito a viver. Você está em boa companhia espiritual. Homens como São Francisco, Gandhi e Schweitzer também sentiam reverência pela vida." Brasilino ficou feliz ao se ver colocado ao lado desses santos.Seu vizinho continuou: "Mas isso que você diz para as formigas deve valer para todas as criaturas. Certo?" "Certo", concordou Brasilino."Então, por que você não traz um tamanduá para morar no seu jardim? Tamanduás também são criaturas de Deus. E adoram comer formigas! Para isso têm uma língua fina e comprida, que entra até o fundo dos formigueiros! Para o tamanduá, comer formiga não é pecado; é virtude!"

E foi assim que o Brasilino, sem desrespeitar suas convicções espirituais, trouxe um tamanduá para viver no seu jardim.

E o tamanduá engordou, as formigas sumiram, o jardim floresceu e o Brasilino sorriu...

Moral da estória: Quem quiser se livrar das formigas e manter uma consciência tranqüila, que compre um tamanduá...

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Sobre a informática e as frieiras

Agora ele procura um outro meio
Agora em vez de lindo ele acha feio
Agora ele já está de saco cheio
Luiz Tatit (O menino)

Eu sou Cirurgião Dentista, mestre em Ortodontia e Doutor em Materiais Dentários. Eu consigo falar uma tarde inteira sobre biomecânica, sem chatear (muito) a audiência. Minha tese de doutorado foi sobre propriedades dos fios ortodônticos. Eu consigo falar um dia inteiro sobre as propriedades dos fios (chateando bastante a audiência, que esse tema é muito teórico), estrutura molecular cristalina, transformações alotrópicas, trabalho mecânico a frio, encruamento, tipos de ligas, materiais alternativos. Eu estudei essas coisas feito louco para fazer a minha tese.

Ontem veio um coordenador de um curso de pós-graduação em ortodontia me pedir aula de informática. Pô, eu não trabalho com informática! Pra mim, informática é hobbie. Eu monto meus próprios computadores, montei minha rede, configurei tudo, me viro direitinho com os programas que eu preciso usar no meu dia-a-dia, mas não sou técnico em informática. Eu sou ortodontista, com mestrado e doutorado. Se o cara precisasse de alguém pra falar de frieira na unha do pé, ele não iria convidar um doutor em oncologia. Ele ia convidar um podólogo.

Pois eu estou de saco cheio de me convidarem pra dar aula de informática. O dinheiro é até bom, mas eu acho isso um desaforo!

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Leishmaniose

Não há vacina, nem vitamina
Pega só de olhar
Rita Lee (A gripe do amor)

Mato Grosso do Sul é área endêmica para a Leishmaniose visceral, doença grave transmitida por uma porcaria de um mosquito e que infecta, também, os cães. O detalhe é que um cão infectado não tem cura, tem que ser sacrificado, tadinho. Como eu tenho uma renca de cachorrada aqui em casa, resolvi vacinar as três, pois não quero arriscar. Nada seria pior para mim do que ter que sacrificar uma das cadelinhas.

A vacina, dizem, é eficaz, mas o bicho sofre um bocado. O local da aplicação fica extremamente dolorido, dá febre, uma judiação. Pois as reações foram bem diferentes:
  • Fly, a pinscher marrom, é a menor das três. E também a mais agressiva, já mordeu muita gente. Um bicho que quase nada consegue derrubar, resistente, atlética (consegue pular umas três vezes a própria altura). Pois foi a que mais sentiu, ficou de cama, sem andar, sem comer, com febre alta... demos dipirona pra ela, e foi o que a fez melhorar.
  • Sissy, a pinscher preta, sentiu um pouco menos. Ela já é uma senhora, com seus 6 anos de idade, está bem gordinha, não pula mais e é muito paciente, inclusive na hora de comer (ela já sabe, por experiência - coisas da idade - que não vai faltar). Também teve dificudade de andar, tomou dipirona e melhorou.
  • Pinky é o bebê da casa. Poodle branca que, não raro, dorme na cama com a gente. Um bicho frágil e delicado. Pois essa nem sentiu nada, eu até liguei na clínica para confirmar que ela tinha sido mesmo vacinada. Continuou com sua vidinha inútil, como se nada tivesse acontecido.

Mas mesmo com o transitório desconforto delas, vou aplicar as outras duas doses da vacina, pois a alternativa é bem pior. Mas, da próxima vez, vou dar dipirona antes de sair de casa. Analgesia preventiva!

sábado, 14 de outubro de 2006

O culpado é o mordomo

E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal
Carlos Lyra/Vinícius (Você e eu)

Um dos blogs que eu gosto de ler é o "Fogo nas entranhas", e está devidamente listado aí à direita, para quem quiser visitar. Gosto do jeito da moça escrever, inteligente, informal, bom português. Passei uns dias sem ler e, hoje, vi um post dela que me chamou tanto a atenção que resolvi, sem permissão, reproduzir parcialmente. Quem quiser ler tudo, o título é "O dicionário maldito". Abaixo, uma breve explicação e o trecho que eu achei interessante:

"Ambrose Gwinett Bierce ou só Ambrose Bierce (1842-1914), para os íntimos, foi um homem notável: Jornalista, escritor (principalmente de contos de terror) crítico, dramaturgo, poeta e veterano condecorado da Guerra Civil Americana (o que, a meu ver, não o torna notável de modo algum, enfim) era, o que chamamos, alguém “da pá virada” (velha essa, hein?) Uma mistura de Poe, Samuel Johnson, Swift e Wilde americano. ...

... Isso aí em cima foi só uma introdução para dizer que, entre as obras que o tornaram famoso, Bierce foi o criador do Dicionário do Diabo (caraca, eu tô falando demais do capiroto ultimamente, vai dizer? Ui! Vade Retro!) - um apanhado de citações cáusticas e mordazes, algumas simples, mas por isso, perfeitas. Outras são sem graça e outras bem interessantes. Pra você, que como eu, adora um bom sarcasmo e grandes citações. Voilá."


E lá, entre as 'citações cáusticas' do rapaz, não podia faltar uma sobre o monstro, o torturador implacável, o mau-caráter de plantão:

"Dentista - Um mágico que coloca metal em
sua boca e extrai moedas de seu bolso"


Lendo nas entrelinhas: o responsável por você estar mais pobre é ele. Mas, peraí: quando você entrou no consultório, estava amarrado, sendo arrastado contra a sua vontade? Você foi obrigado a ir até lá? Arrancaram seu dinheiro, descontaram direto do seu salário? Ameaçaram de precesso judicial, prisão, tortura e execração pública? Não?!?

Ora, então não reclame e vá curtir sua dor de dente em casa. Não me encha o saco!

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Pior que dentista

Era uma vez na amazônia, a mais bonita floresta
Mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
Geraldo Azevedo (Saga da Amazônia)

Eu fiquei sinceramene chocado com o acidente do avião da Gol no Mato Grosso. Tantas vidas perdidas de forma tão besta... mas também porque eu sei o quanto é seguro voar em um desses aviões, porque eu adoro voar, porque eu morro de medo de viajar de carro. Não que eu não goste: eu até que dirijo bem na estrada, já rodei alguns milhares que quilômetros pelas rodovias do país, mas eu sei que é muito, mas muito perigoso mesmo. Caminhoneiros bêbados, motoristas inexperientes, imprudentes, estradas ruins, enfim, tudo conspira contra a nossa vida em uma estrada. No céu não: é raríssimo uma morte em avião grande. No entanto...

O pior não é nem isso: enquanto os americanos tratam de colocar a culpa (que é, claramente, deles) em algum pobre brasileiro - seja ele controlador de vôo, empregado da Embraer ou algum morto no acidente, como piloto, co-piloto, comissário, aeromoça, qualquer um - advogados canalhas assediam as famílias dos mortos de forma acintosa, desrespeitosa, bandida mesmo!

Pelo menos um consolo eu tenho: parece que o exercício da advocacia por aqui está pior do que a odontologia. Os advogados estão mais desesperados do que os dentistas, hehehehe. Parece até piada: quem é o profissional que estuda anos e anos para depois se prestar ao papelão de sair feito louco atrás de clientes, apelando para os mais baixos expedientes a fim de roubar um cliente de um colega? Responda rápido! Até porque, se não for bem rápido, é capaz de aparecer um advogado querendo ajudar!

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Direito de votar?!?

Cuidado com polícia! Cuidado com ladrão!
Não seja condenado a votar em canastrão! Obrigado não!
Rita Lee (Obrigado não!)

Eu sei, eu sei, todos os meus 2,5 leitores já estão enjoados de ler minhas broncas contra o sistema eleitoral brasileiro, em especial contra o voto obrigatório. Mas uma das coisas que eu posso fazer contra o que eu não concordo é esbravejar e escrever na internet, porque o que a gente escreve aqui fica disponível para o mundo todo. Eu não quero perder essa chance. Se eu jogo uma gota de água sobre a floresta em chamas, estou fazendo o que é possível para mim, já que eu não posso quebrar a cara do infeliz que inventou essa coisa indigna que é voto obrigatório.

E a grobo ainda tem a cara-de-pau de dizer que é "direito" de cidadão. Direito é poder escolher. Direito é poder dizer "dane-se!". Direito é poder se omitir, eu tenho o direito de ser alienado, burro, escroto, o que eu quiser, desde que não atrapalhe os outros, ou até atrapalhando.

Eu quero ter o direito de dormir o dia inteiro no domingo, sem ser obrigado a sair para votar em um bando de bandidos que vão me extorquir durante 4 anos, vão rir da minha cara de otário e bancar os importantes. Eu quero ter o direito de me sentar em um bar e tomar minha cerveja no domingo. Eu quero ter o direito de mandar todos os políticos para o inferno. Ou não.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

5 fatos sobre o Mr. Teeth

Quem é você?
Adivinhe, se gosta de mim
Chico (Noite dos mascarados)

Hoje eu resolvi me mostrar um pouco pra que está muito curioso, então vamos lá:
  1. Eu adoro cerveja. Bavaria Premium, de preferência, mas também sei apreciar uma Bohemia Weiss ou uma Kaiser Bock, se a situação, a comida pra acompanhar e a temperatura ambiente permitirem. Na praia eu bebo até Brahma.
  2. Música brasileira. Sambas antigos (Cartola é o rei), Chico, Arnaldo Antunes, Oswaldo Montenegro, Almir Sater, Toquinho, Raul Seixas, Rita Lee... e por aí vai. E chorinho! Eu adoro TODOS os chorinhos, começando por Pixinguinha e passando por todos os estilos de choro, desde o luxo do piano de Ernesto Nazareth até a simplicidade sofisticadíssima de Jacob do bandolim, que fazia aquelas frases fantásticas parecerem fáceis. Fora isso, Beatles, Eric Clapton e BB King. Chega.
  3. Sou bem organizado e metódico com as coisas, mas só consigo cumprir tarefas em cima do prazo, com a água batendo na bunda. Sei lá, rende mais assim. Não consigo fazer nada com antecedência.
  4. Auto-didata em informática, até que eu me viro bem com os programinhas que preciso usar. Monto meus próprios computadores, instalo e configuro minhas redes, construí sozinho meu website. Até que não ficou ruim.
  5. Pra comer eu gosto de quase tudo. Nuca vi gordinho enjoado pra comer, então, se for menor do que eu, eu como. Se for maior, eu corto em pedaços e como. A única coisa que eu não gosto é pimentão. Eu odeio pimentão. Tenho horror de pimentão!!! Mas eu vou confessar que o meu coração bate forte por churrasco e por feijoada. E eu gosto de fazer a comida. Tomando uma cerveja, claro.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Quem?!?

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Noel Rosa (Filosofia)

Mais do que as ações da bandidalha política que atualmente frequenta as páginas policiais dos noticiários, eu me espanto com os nomes. Nem vou falar de nomes de candidatos, tão cândidos em seus apelidos inventados - como Lulas, Sarneys, professores e doutores - mas dos nomes de dois 'acessores' que foram pilhados em flagrante delito de comprar informações fabricadas contra outro político. Como eu não acredito em político honesto, papai noel, saci pererê e mula-sem-cabeça, eu acho que ladrão que rouba ladrão deveria ir preso junto. Mas esses dois têm nomes de arrepiar: Valdebran e Gedimar!

Poderiam ser irmãos. Eles têm o tipo do nome que parece que foi resultado de uma colagem dos nomes do pai com o da mãe, ou de algum avô ou avó que já tinham nomes esquisitos. Dá vontade de remontar os dois, tipo Valdimar e Gedebran, mas não resolveria muito, continua estranho. Ou Gedival e Debramar... piorou!

Será que no Brasil os aspones têm nomes esquisitos por imposição da profissão?

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Até tu?

Fui num samba lá no morro, nunca vi tanta limpeza
Era proibido cafungar, fumar bagulho e beber cerveja
Bezerra da Silva (Tem coca aí na geladeira)

Primeiro foi a dipirona. Lá na gringolândia a dipirona é proibidíssima, alegadamente por causar agranulocitose fatal, doença de espantosa raridade nas terras ao sul do equador, até porque, provavelmente, quem morre de agranulocitose por aqui deve receber a tarja "diarréia" no atestado de óbito. Mas fato é que a dipirona é um dos analgésicos mais seguros que eu conheço, uso com frequência, prescrevo aos meus clientes e só não dou para as minhas filhas tomarem porque elas, como metade da minha família, têm alergia a esse fármaco. Mas eu tomo.

Agora é o diclofenaco. Recente publicação científica relata que o danado aumenta em até 40% o risco de ataque cardíaco. Mas justo o diclofenaco?!? Uma medicação tão útil, simples, segura (até que se prove o contrário), barata... Parece que a coisa vai mal, cada vez mais somos tolhidos das nossas opções por medicamentos eficazes e consagrados, sendo obrigados a recorrer a novas formulações, caras, cheias de efeitos colaterais, complicadas, com grife, royaties e outros palavrões estrangeiros.

E os nossos velhos conhecidos dipirona e diclofenaco amargam o ostracismo por conta de fatalismos. Até quando o ácido* vai resistir?

*Atentem, caros leitores, que quando falo de ácido me refiro ao bom e velho AAS, ou Ácido Acetil Salicílico, analgésico e antiinflamatório de comprovada eficácia, pequeno custo e enorme difusão entre as camadas mais esclarecidas da população, que tem, como principal efeito colateral, colaborar para 'afinar' o sangue, prevenindo infartos. Até quando?

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Presbiopia

Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço e vou
Nando Reis (Os cegos do castelo)

Você não leu errado, o título do post é esse mesmo, 'presbiopia', o pequeno problema de visão dos maiores de 40, vulgarmente chamada de 'vista cansada', que obriga os corôas a afastar o papel do rosto para ler as letras menores. Segundo os especialistas, acontece com todo mundo.

Eu, com meus 43 anos de idade (mas com corpinho de 42), já começo a apresentar os primeiros sintomas. Sempre tive um pouco de hipermetropia, então nunca fui bom em olhar as coisas muito de perto, sempre preferi uma certa distância, mas agora sinto que essa distância fica cada vez maior. E algumas letras são definitivamente impossíveis de se ler. É o clássico problema de DNA (Data de Nascimento Antiga). Mas, eis que surge uma esperança...

Só de pensar em usar óculos eu fico deprimido. Uso óculos escuros sempre que estou fora de casa, um pouco de fotofobia que acompanha todos os hipermétropos me obriga a isso, mas a idéia de usar óculos para ler não me agrada. Agora parece que inventaram uma cirurgia a laser que corrige ou, pelo menos, ameniza o problema. Para dentista, enxergar mal é um castigo. Meu problema ainda não atrapalha meu trabalho, eu só sinto dificuldade com bula de remédio e com rótulo de iogurte (principalmente letras pretas em fundo escuro brilhante), mas me sinto bem mais tranquilo sabendo que tenho uma esperança de adiar o uso dos óculos por alguns anos.

Bom que a medicina avança!

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Sobre as raças

Percebam que a alma não tem cor
Ela é colorida, ela é multicolor
André Abujamra (Alma não tem cor)

Dia desses eu ouvi uma reportagem sobre racismo, e a pessoa disse que a miscigenação é a destruição das raças, querendo com isso justificar-se. Ora, eu, na hora, entendi que não há nada mais desejável no mundo do que a destruição das raças. Ficamos com uma só, a raça humana. Ou, no mínimo, a raça brasileira, uma mistura maravilhosa de negros, índios, europeus, orientais, mouros, marcianos, venusianos e qualquer outra nuance de cor, textura ou cultura que aparecer.

Porque as pessoas de "raças puras" não são tão bonitas quanto as misturadas. Nem quero pensar na possibilidade de um Brasil sem misturas, sem as fantásticas colaborações que as diversas origens do nosso povo trouxeram à nossa cultura, à nossa cor, às nossas pessoas.

Sim, seria um mundo utópico, aquele em que ninguém conseguiria, por mais que quisesse, reconhecer pelo rosto a origem das pessoas. Ou pelo nome. Um mundo em que a discriminação ficaria cada vez mais difícil, porque a aparência física não daria uma dica da origem. Viva a miscigenação!

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Eu também!

"Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em
torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Chico Buarque (Fado Tropical)

Agora é guerra: o acadêmico e beletrista Sir Ney (Sarney sarnento, pros íntimos) resolveu que é juri e juiz e mandou fechar um blog que falava umas verdades. O blog é de uma jornalista do Amapá, terra que ele escolheu para pagar os pecados de votar nele. Alcinéa se refugiou no blogger e continua com sua campanha "Xô, Sarney", à qual este humilde blogueiro se junta neste momento.

Aqui, minha pequena contribuição:

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Meu primeiro dente!

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Toquinho (
Aquarela)

Eu sou conhecido nos meios acadêmicos como o pior desenhista que uma faculdade de odontologia já conheceu. Pois agora veio a minha vingança, daqueles que zombaram dos meus desenhos de bonequinhos de palitos mal feitos. Eu comprei, como investimento na profissão, uma mesa gráfica digitalizadora, ou “grafic tablet”, como chamam os americanos.

É claro que esse periférico não melhorou em nada minhas habilidades artísticas, mas me permitiu umas artimanhas que eu desconhecia. Então o que eu fiz foi pegar o meu tamplate de traçado cefalométrico (uma régua que tem os dentes vazados, pra ficar fácil de desenhar) e fiz o desenho de um dente no papel. O papel foi colocado sob o plástico transparente da mesa e eu fiz o traçado básico. Ficou horrível, mas eu consegui transforma-lo no que eu considero meu melhor desenho até hoje!

Taí o resultado. Histórico, pois foi a primeira vez que eu consegui desenhar alguma coisa decente.


quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Bactéria x bactéria

E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar
Raul Seixas (O dia em que a terra parou)

Notícia quentinha: pesquisadores alemães inventarm um chiclete que combate as cáries. Legal, a iguaria contém bactérias que combatem o grande causador da cárie, um certo Streptococcus mutans, velho conhecido da comunidade odontológica e mestre em frustrar tentativas de acabar com ele. Já tentaram vacina, bochecho com mil e uma substâncias, feitiçaria, benzedura, reza brava e nada. O bicho continua lá, se é que se pode chamar bactéria de bicho. Tá, eu sei que não é, mas o som da frase ficou legal, então eu vou deixar assim.

O problema é que existe, sim, um jeito de evitar cáries. Uma associação simples de flúor e bons hábitos de higiene. Raios, escovar os dentes é hábito de higiene básica, eu já escrevi sobre isso quando falei de manias e do número de vezes que se deve escovar. Mas ficam inventando um jeito de evitar a necessidade de escovação. Será que ninguém pensa em arrumar um jeito de não precisar mais tomar banho todo dia? Seria legal, você toma um comprimido e pode ficar um mês sem tomar banho que não vai ter doença alguma. Se você ficar fedido como um porco, não tem problema, porque doença você não vai pegar. É um paralelo razoável: você masca um chiclete e não precisa escovar os dentes. Os outros que aguentem o bafão.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Aniversário

Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada neste mundo que eu não saiba demais
Raul Seixas (Eu nasci há dez mil anos atrás)

Aniversário passa e autor nem tchuns...

Pois é, o Al-Dente fez um aninho no dia 01/06 e eu nem percebi... agora já foi, nem dá mais pra comemorar, vai ter que ficar para o próximo. Eu vou mesmo meio desligado, não consido guardar os nomes das pessoas nem as datas dos aniversários, deve ser algo genético, sei lá.

Mas eu prometo que vou tentar me lembrar do aniversário de dois anos e fazer um post caprichadíssimo, editado no word, revisado, com figura e tudo. Abraços a todos e muito obrigado aos que me lêem com frequência - sei que são poucos, mas selecionadíssimos!

sábado, 26 de agosto de 2006

Esses santos homens e suas imaculadas biografias II

Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
Chico Buarque (O meu guri)


Quebra-Quebra no Escritório do Deputado JOÃO GRANDÃO (MS)

O Deputado João Grandão, também conhecido como João “Sirene”(?), ao chegar no seu escritório, olhou para o monitor de seu computador e, num acesso de raiva, pegou uma cadeira, começou a quebrá-lo e a gritar:

- Não admito! Não admito! No meu próprio escritório!

E continuou a quebrar o seu computador. O seu assessor, muito assustado, lhe perguntou o que estava acontecendo.

-Olhe ali, no computador! Não admito! Sanguessuga!!!! No meu computador!!! Não admito!!!! - respondeu gritando o Deputado. O assessor olhou para o monitor todo quebrado e respondeu:

- Não, Deputado, é SAMSUNG. O monitor é da marca SAMSUNG, não é sanguessuga.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

O que o cliente quer ouvir

Me diz que eu sou seu tipo
Repete, amor, que eu acredito
Eduardo Dusek (Seu tipo)

É difícil para o cliente ouvir do profissional que sua expectativa de tratamento está errada. Normalmente a pessoa chega à clínica com uma idéia relativamente concreta do que a espera: "vou a um ortodontista, devo usar aparelho nos dentes por um ano e tanto, vai doer e tals". Quando ouve o que não queria, não gosta, claro. Se o ortodontista diz que o caso é cirúrgico, ou que precisa de um tratamento periodontal antes e isso não fazia parte dos planos, é quase certa a decepção.

Durante muito tempo eu me recusei a fazer tratamentos ortodônticos de casos que exigiam cirurgia se o cliente não quisesse operar. Perdi todos. Muitos dos clientes até não se recusariam a operar, mas queriam ter uma opção. Hoje, mais experiente, eu dou opção a eles - um tratamento que vai 'quebrar um galho', apenas maquiando o problema, sem corrigi-lo realmente. Faço isso roendo o céu da boca, eu sei que não está certo, mas eu preciso dar uma opção ao meu cliente, ou ele vai acabar encontrando um que diga o que ele quer e, com certeza, vai se dar mal. Isso aconteceu com a moça da cirurgia e com muitos outros que eu vi por aí.

Acontece muito em casos de extração. O cliente já chega dizendo que não quer extrair dentes, se eu fincar o pé e dizer que sem extração eu não trato, ele vai achar outro que trate. Então eu preciso dizer: "Vamos começar assim, se depois do alinhamento dos dentes você estiver feliz com o resultado, terminamos. Se não, estudamos as possibilidades". Entre essas possibilidades estão as extrações e, até lá, ele pode estar convencido de que esse é o melhor caminho.

Mas o principal nisso tudo é nunca mentir para o cliente. Deixar muito claro que o tratamento alternativo é sempre muito inferior em resultados ao inicialmente proposto. Que o 'quebra galho' não vai resolver o problema, vai apenas varrer a sujeira pra baixo do tapete. Nunca dar a impressão que vai ficar bom, porque não vai. Não existem milagres, infelizmente.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Esses santos homens e suas imaculadas biografias

Vai cair, a máscara azul
Vai cair, o nível mental
Raul Seixas (Dentadura postiça)

Estou impressionadíssimo com a falta de nomes de políticos do MS nas listas de mensaleiros, saguessugas e da bandidalha em geral sendo pilhada pela imprensa. Não pensem que é porque por aqui o nível de corrupção seja menor do que em outras plagras.

Podemos nos orgulhar de possuir um dos mais representativos espécimes do coronelismo fisiológico da política brasileira, um certo Pedrossian, que foi (sempre ao lado do governo) UDN, Arena, PDS e, com essa história eminentemente de direita reacionária, acabou no PTB (?) do Brizolla, ícone da esquerda burra e golpista. Daí já dá pra ter uma idéia do nível do fisiologismo das duas figuras. Pedrossian, o flagelo armênio do Pantanal, conseguiu ser governador do antigo estado do MT (antes da divisão) e duas vezes do MS depois desse criado. Indicado, a golpe de pena, e depois eleito. Enriqueceu como o diabo, tornou-se, de engenheiro de ferrovia, em um dos maiores latifundiários e criadores de nelore do mundo. Quebrou espetacularmente, vítima do vício pouco recomendável de apostar a própria moradia em carteados - e perder.

Pois agora, aposentada tal eminência, temos um vácuo na bandidagem pantaneira, só conseguimos emplacar um mísero deputado federal. Vladimir Moka, que ainda nem foi citado na CPI, já se diz inocente e é candidatíssimo à reeleição. Reelege-se sempre. O outro nome citado, João Grandão (homem pequeno, note-se), é estadual e está enrolado até a raiz dos fartos cabelos. Não deve ser difícil para ele, entretanto, se safar. A tradição Sul-Matogrossense de relevar os pequenos deslizes de seus representantes não há de deixar esse filho da terra desamparado. Deve ser reeleito também, para gozar da merecida imunidade que o 'parlamento' lhe dá.

Ah, esses nobres homens e suas impolutas biografias...

terça-feira, 15 de agosto de 2006

O professor processado

Tudo em volta está deserto tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco
Caetano (Como dois e dois)

Pois a moça fez quase tudo como deve ser feito. Procurou um professor da Universidade Federal, supostamente um profissional de primeira linha, para realizar a cirurgia. Ela tinha um bom trauma pela forma da arcada superior projetada, já tinha procurado tratamento ortodôntico, mas o ortodontista disse que ela precisava de 18 meses de tratamento, uma cirurgia e mais 6 meses de aparelho.

Era demais para ela, aparelho ortodôntico por dois anos, com uma cirurgia relativamente grande no meio, anestesia geral e 3 dias de internação... Não, tinha que ser uma coisa ou outra. Procurou o primeiro cirurgião, que deu o mesmo diagnóstico. Finalmente ela encontrou um que aceitou operá-la sem o preparo ortodôntico. Infelizmente, para cirurgião e paciente, as coisas não deram certo, leia a matéria completa, vale a pena.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Entidades de classe (Updated)

Tem gente que passa a vida inteira
Travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
Que está o coringa do baralho
Raul Seixas (As aventuras de Raul...)

Outro dia alguém me perguntou, via comentário, se eu acho importante participar de entidades de classe, ABO, sindicato e afins. Eu acho que sim, mas escolher bem a entidade para se associar é de vital importância. É necessário, antes, ver direitinho qual é o propósito da entidade, para depois investir seu rico dinheirinho nela.

Eu sou sócio da ABO desde a minha formatura. Na verdade, desde que eu era acadêmico. Considero a ABO uma entidade séria, comprometida com os interesses da classe. Se não fosse assim, eu não seria sócio. Como não sou sócio do sindicato. Também não pago o sindicato, nem mesmo a tal 'contribuição sindical', que eles nos roubam todo ano. Parei, quero ver o que os caras vão fazer comigo. Parei porque eu vejo que o sindicato, pelo menos aqui no MS, não funciona como deveria, e eu já me dou o direito de só pagar pelos serviços que eu efetivamente recebo. Quem se insurgiu contra o ato médico, por exemplo, foi a ABO. Cadê o sindicato, nessa hora? Estava ocupado, ministrando cursos para ganhar dinheiro.

É a velha história do dinheiro à frente das pessoas. Eu sempre digo aos meus alunos: "Nunca coloque o dinheiro à frente do seu paciente. Você pode ganhar muito agora, mas um dia a coisa pega, o jacaré te abraça e a casa cai". Já cansei de ver acontecer. E o sindicato caminha a passos largos nessa direção. Quem quer um sindicato atuante, que realmente defenda a classe, não paga esse sindicato que nós temos hoje.

Outras entidades, como a ABCD, por exemplo, só existem para dar cursos mesmo. Aí, entrar numa dessas, é fria total.

UPDATE

Mas foi só eu falar sobre o sindicato e me cai nas mãos o jornal "Odonto em ação". Vou reproduzir aqui os títulos das matérias do jornal, veja só:

- Inscrições abertas para o segundo curso prático para confecção de aparelhos ortodônticos e ortopédicos
- Conheça as regras dos cursos de pós-graduação
- Alunos do curso de periodontia do Sindicato de Cuiabá atendem a população
- Primeiro curso de periodontia no SIOMS representa mais um avanço da classe
- Inscrições abertas para o curso de especialização em prótese dentária do SIOMS
- Curso de iniciação em ortodontia e ortopedia facial
- Curso de especialização em ortodontia se destaca pela equipe de docentes
- Professor Marcelo Fabian esclarece a importância da especialização na vida profissional
- Curso de especialização em ortodontia supera as espectativas
- Caso clínico - enxerto de tecido conjuntivo subepitelial (tinha que ter um caso clínico, se não não era um jornal "científico")
- Curso de especialização em implantodontia tem presente na equipe de docentes o professor Alberto Consolaro
- Mais uma turma em implantodontia finaliza a especialização com êxito e as inscrições estão abertas para o próximo curso
- Turma do curso de atualização em implantodontia finaliza com sucesso
- Inscrições abertas para o curso de especialização em implantodontia na Base Aérea de Campo Grande.

Tem mais, mas eu cansei de digitar. Todos esses cursos são oferecidos ou no Sindicato dos Odontologistas (sic) de Mato Grosso do Sul, ou na Base Aérea de Campo Grande, ou no Sindicato do estado de Mato Grosso. E eu me pergunto: prá que é que serve o sindicato?!? Eu lá sei o que é odontologista? Prá que serve a Base Aérea?????? Eu tenho certeza absoluta que essas entidades não deveriam estar promovendo cursos de odontologia.
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segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Ugh!

Para levar num hospital de aleijado
Eu vou com muito cuidado
Moreira da Silva (Bilhete premiado)

O pior fim-de-semana da minha vida

Sexta, saindo de uma gripe (coisa que eu não tinha há anos), dei um mau-jeito nas costas. Distensão muscular, o resto da sexta, o sábado e o domingo de molho, quase sem poder levantar. Segunda levantei pra ir pra facu. Ainda dói, mas eu funciono, só me faltou um feriado pra descansar.

Não esperem que eu escreva coisas engraçadinhas tão cedo.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Dentista não mata

O humano é o engano do humano
E é o mano que engana o outro mano
Arnaldo Antunes (O engano do humano)

Uma moça morre nos EUA, vítima de um "médico" que a mutilou em uma suposta cirurgia de lipoaspiração. O "médico" atuava sem licensa, processado no Brasil, sem condições de higiene e biossegurança em um porão. Outra moça já tivera problemas com o esquema.

Eu fico me perguntando como é que as pessoas se submetem a esse tipo de coisa. Será possível que estão cegos? Não conseguem enxergar um palmo à frente do nariz, não vêem que a situação é de extremo risco, não pesam os custos da empreitada? Será que só vêem dinheiro em sua frente? Veja que quando eu falo de pesar custos, não estou falando de dinheiro, estou falando de custo biológico, de infecção, dor, mutilação, morte! A moça procura um criminoso, não checa suas referências, não visita a 'clínica' antes da cirurgia, não pesquisa a história, não se importa com nada a não ser em fazer uma cirurgia que, a princípio, lhe dará um corpo melhor a um precinho camarada. O problema é que, como eu não me canso de dizer, o barato sai caro. Sempre.

Na odontologia não é diferente. A grande diferença é que o cliente do dentista raramente morre. As mutilações são frequentes mas, como ficam dentro da boca, ninguém percebe. Não são tanto mutilações estéticas, são funcionais, o que é muito pior, mas tem muito menos visibilidade. Não há uma cultura de se reclamar de serviço mal feito por dentista. Há muito, muito corporativismo, o que é plenamente compreensível, mas torna a profissão menos confiável. Todo mundo reclama se a TV que acabou de comprar pifar, mas se o dente quebra e o dentista não quer consertar, deixa pra lá.

Então continua a cultura de procurar um serviço baratinho, a despeito da qualidade. Quase ninguém pensa que não existe milagre, que um profissional que estudou e sabe bem o que está fazendo, custa caro. Custa porque investiu na profissão. Fez curso de biossegurança, ao invés de marketing.

Em tempo: dentista quase nunca mata.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

A última dos convênios

Se agora prá fazer sucesso
Pra vender disco de protesto
Todo mundo tem que reclamar
Raul Seixas (Eu também vou reclamar)

Um leitor (o Demitri) pergunta se eu sei se é possível protestar um convênio. Eu sei, eu tenho absoluta certeza que sim, só duvido um pouco que a justiça seja feita, como sempre, aqui no nosso brasilzão. Mas que é possível, isso é, porque todos os convênios são regidos pela ANS.

Então, o conselho do titio Dentes é que, você querendo protestar o convênio, em primeiro lugar dê uma estudada na legislação, disponível lá no site da ANS. Constitua um advogado e vá atrás dos seus direitos. Guarde TODA a documentação pertinente ao caso, organize-se ao máximo, junte toda a sua paciência, sua fé nas instituições, nos seres superiores do universo ou no que mais você acredite e boa sorte.

Eu espero, sinceramente, que o Demitri consiga receber seu dinheiro (tenho a impressão que ele levou um cano...), o que seria uma vitória e tanto. Estou torcendo.

Pronto, prometo que não reclamo mais dos convênios.

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Nova turma

A fé tá viva e sã, a fé também tá pra morrer
Triste na solidão
Gilberto Gil (Andar com fé)

Comecei ontem com a nova turma de alunos. Crianças, praticamente, estão no meio do primeiro ano da faculdade, não conhecem os termos da odontologia nem sabem direito onde se meteram. Cabe a mim mostrar-lhes o início da coisa, proporcionar o primeiro contato com profissão. É sob meus cuidados que eles vão, pela primeira vez, vestir branco e enfiar os dedos na boca de outra pessoa. Profissionalmente, eu digo.

Espero e acredito que teremos um relacionamento extremamente proveitoso, pois devo colocar em prática antigos sonhos de professor, compartilhar o plano de ensino, a avaliação e a busca do conhecimento. Estou motivado e animado. Vamos ver se o resultado compensa.

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Desespero

E talvez, desesperado com tanta devastação
Pegou a primeira estrada sem rumo, sem direção
Geraldo Azevedo (Saga da amazônia)

Deve estar duro mesmo, ganhar dinheiro honestamente com Odontologia: só hoje recebi propaganda de duas instituições do Paraná oferecendo cursos e mais cursos de especialização, a preços absurdos.

A impressão que dá é que ninguém mais consegue sobreviver de consultório, todo mundo resolveu virar professor, instituições aparecem como moscas rondando carniça, faculdades das quais nunca se ouviu falar, professores completamente desconhecidos, com currículos altamente duvidosos. Hoje recebi folhetos (bonitos, por sinal) da Uningá e da Cesumar, ambas do Paraná, no desespero de arrumar alunos para seus cursos.

Como se Mato Grosso do Sul fosse terra de ninguém. Como se aqui não houvesse universidade, conselho, abo. Como se aqui não houvesse mestres e doutores. Meio de mato, fim de mundo. Mas os dentistas broncos daqui devem ter um dinheirinho pra gastar, então vamos ciscar nesse terreno, quem sabe sai alguma minhoca.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Sobre quem paga e quem recebe

Enquanto as piranhas comem, temos que passar ligeiro
Toque logo esse boi velho que vale pouco dinheiro.
Almir Sater (Travessia do Araguaia)

Eu sei que é um direito de qualquer criatura que esteja desembolsando uma certa quantidade em dinheiro pechinchar. Eu sei que, nestes tempos bicudos, de pouco tutu na mão da gente e muito nas mãos dos que não merecem, a gente tem que pagar sempre o mínimo possível por um produto ou serviço, mas isso tem que ter um limite.

É que eu sempre me sinto muito mal quando um cliente acha que eu estou cobrando caro pelo tratamento. Eu me sinto desprestigiado, como se ele estivesse me dizendo: "Doutor, seu trabalho não vale isso tudo". Ou seja, eu estudei a vida toda para fazer um trabalho ao qual me dedico de corpo e alma, capricho extremado, atendo meu cliente pessoalmente todas as vezes, uso material de primeiríssima qualidade, tenho consultório bonitinho e confortável, música, ar-condicionado, local de fácil acesso, estacionamento, secretária educada, atendo na hora marcada, etc, etc, etc... e o cliente vem me dizer que meu trabalho não vale o que eu cobro.

Tá, você pode argumentar que não é nada disso, que o cliente só está pechinchando e que isso é um direito dele, mas eu não posso evitar de me sentir assim. Às vezes o cliente me pede um desconto, diz que a vida tá difícil, que ele quer muito fazer o tratamento comigo, então eu arrumo um jeito de dar um desconto bem camarada pra ele: eu não dou o recibo, você não declara aos ladrões de Brasília que me pagou e eu dou um descontão, bem maior do que o que eu pagaria de imposto. Eu já argumentei que sonegar o IR é legítima defesa quando escrevi sobre o Kapaz, os malvados, o "Brasil Sorridente", o Duda Mendonça e a foto da Veja, então não vamos entrar nessa discussão novamente. O problema é quando o cliente acha que esse desconto ainda não está bom. Ontem aconteceu. Eu não arredei o pé, mantive meus preços e o cliente disse que ia fazer o tratamento. Não sei se vai mesmo, mas eu, no fim, me senti melhor.

Me senti como se tivesse conseguido convencer o cliente de que eu valho o que cobro.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

10 mitos da Ortodontia 9

Convênios

No início, dá a impressão de que nós vamos ganhar dinheiro com os convênios, mas isso passa logo. O grande problema é que o convênio só é bom para a empresa que o administra. O cliente paga até mais do que pagaria por um tratamento particular, só que paga bem lentamente e quase não percebe. O profissional recebe muito menos do que receberia por um tratamento particular. Com quem fica a parte boa? Claro, com a administradora.

Aí é que entra a Uniodonto. Eu não sou cooperado, já fui e não sou mais, mas acredito que é o único convênio que não nos rouba, porque é uma cooperativa de Cirurgiões-Dentistas. Se a Uniodonto roubar seus cooperados, estará tirando dinheiro de um bolso para colocar em outro, ou seja, não vale a pena. O contrário também é verdadeiro, se você fraudar a cooperativa, estará fraudando seu próprio patrimônio. Então, se todos tiverem consciência de que esse caminho é válido, estamos conversados. O grande problema da cooperativa – e o grande motivo da minha briga com ela – é que não há restrição de especialidade. Eu, como ortodontista, tinha como concorrentes TODOS os outros cooperados, ou seja, qualquer CD pode fazer tratamento ortodôntico. Numa cooperativa de CD´s isso é uma pena, porque desestimula o estudo e a especialização do profissional: porque eu vou gastar tempo e dinheiro em uma especialização, se eu posso fazer o tratamento e receber tanto quanto um especialista?

Convênios particulares são os piores. Empresas como Pax, Associl e outras, acabam ganhando muito dinheiro com o nosso trabalho. Elas simplesmente fazem a ligação entre o cliente (que paga todo mês) e o profissional, que recebe pouco por seu trabalho. Ficam com a melhor parte, ou seja, a maior parte do dinheiro. Não é vantagem para o cliente ou para o profissional, esse tipo de convênio, inclusive porque os tratamentos mais caros e especializados, como próteses, implantes e tratamentos ortodônticos, normalmente não são cobertos. O cliente tem que pagar por fora, total ou parcialmente.

E tem o último tipo, que agora está virando moda: a administradora faz um contrato com uma associação ou sindicato qualquer, cadastra uma série de profissionais e oferece: o funcionário paga o profissional com um vale, o profissional no final do mês apresenta os vales e recebe à vista. Os valores são descontados em folha do funcionário. Para o profissional é ótimo, porque ele nunca vai ficar sem receber. Por outro lado, o cliente ganha um desconto, que ele negocia com o profissional diretamente. Ótimo, não é? Só que, para ser cadastrado, o profissional é obrigado a comprar um espaço no catálogo do convênio, que pode chegar a $1.200,00. Isso mesmo, mil e duzentos reais!

Ou seja: se você for fazer um convênio, pense muito bem e faça as contas direitinho.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Mudando os rumos da humanidade

Dançarei pelado na cratera da lua
Mesmo sem saber onde termina
A minha e onde começa a sua
Cazuza (Balada de um vagabundo)

E não é que a raça humana continua produzindo inutilidades e gastando energia em idiotices? Pois veja só, pelados e pelantes brigando por um pedaço de areia, como se neste país faltasse areia na beira do mar. Só podia ser coisa de carioca mesmo, ao invés de comprar uma briga que valha a pena, que realmente melhore a vida das pessoas, ficam discutindo se o cara tem ou não o direito de passar a mão na mulher (que, pelo jeito, está gostando) em público.

Enquanto isso, nos gabinetes de Brasília correm soltos deputados, senadores e outros ladrões engravatados, tramando formas de usurpar nosso suado dinheirinho. Será que esses cariocas não poderiam ir se pelar e se apalpar lá no congresso, como forma de protesto? Já que eles gostam tanto de tirar a roupa e brigar, poderiam usar essa prerrogativa para protestar, deixando os bandidos eleitos encabulados.

UAU, que bela idéia!!! Um protesto de pelados! Vou mandar emelho pre eles!

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Convênios

Hoje o tempo está mais firme, abre mais meu apetite
Cura e seca meu bronquite algumas folhas de hortelã
Luiz Melodia (Estácio, eu e você)

Eu acredito que o futuro da Odontologia será a socialização, um processo que está em franco desenvolvimento com a medicina, podendo-se chegar ao ponto em que as necessidades odontológicas da população serão bancadas pelo estado, com os clientes atendidos em clínicas públicas ou particulares sem pagar diretamente pelo tratamento ao profissional. Isso é especialmente importante para que a população de baixa renda tenha acesso a tratamentos de qualidade, principalmente na área de prevenção. O cenário ideal teria três situações hipotéticas:

1. O cliente não tem como pagar pelo tratamento, dirige-se a uma clínica pública (posto de saúde) e é atendido, sem grandes demoras, por uma equipe bem treinada e bem remunerada e um profissional com boa formação na área específica. Nada lhe é perguntado, se ele pode pagar ou não, se tem seguro-saúde, convênio, nada. Ele também não paga pela consulta nem pelo tratamento, que são integralmente cobertos pelo estado. As desvantagens são o atendimento ambulatorial (clínica pública), sem hora marcada e sem continuidade no tratamento, ou seja, para cada atendimento o cliente precisa passar por todo o processo de identificação e fila de espera.

2. O cliente pode pagar por um tratamento um pouco mais diferenciado, dirige-se a uma clínica particular (consultório) e lá apresenta seus documentos que comprovam que ele é segurado por um plano de saúde que cobrirá parte dos custos de seu tratamento. Ele teria sua consulta agendada para um período que o profissional separou para atender pacientes de convênios e faria seu tratamento nessa clínica particular, com hora marcada. A grande vantagem é que o cliente recebe um atendimento personalizado, com hora marcada e continuidade no tratamento, porém este será feito exclusivamente nos horários determinados pelo profissional. Esse cliente paga por um plano de saúde, que se encarregará de repassar ao profissional os valores determinados em contrato.

3. O cliente tem condições de pagar por um tratamento particular, não depende de planos nem convênios e acerta os pagamentos diretamente com o profissional, recebendo em troca o tratamento com todas as mordomias a que tem direito.

Desnecessário dizer que na primeira hipótese o profissional é empregado do estado, concursado, especialista e recebe um salário compatível com sua função e com o número de horas trabalhadas, podendo também receber adicional por produtividade. É obrigado a se atualizar constantemente (ou recebe incentivo para isso) e tem boas condições de trabalho. Para o segundo cenário, os planos de saúde devem ser administrados por cooperativas dos próprios profissionais, pois planos privados normalmente exploram o cliente e o profissional, além de não oferecerem tratamento razoável.

Teoricamente nós temos isso acontecendo agora mesmo. Hoje, no Brasil, existem excelentes postos de saúde com atendimento 24 horas, bons profissionais que são muito bem remunerados e dos quais é exigido um desempenho mínimo, equipes bem treinadas e material de boa qualidade, sem custo para o paciente, que pode ser atendido via SUS e não precisa provar nada. Também temos as cooperativas de saúde, UNIMED e UNIODONTO que, embora não trabalhem juntas como deveriam, são administradas pelos profissionais e oferecem planos de saúde muito bons.

Não é assim?

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Linda

Cabelo Loiro vai la em casa passear, vai, vai
Cabelo loiro vai cabar de me matar
Almir Sater (Cabelo Loiro)


Alguém pode me explicar porque a Linda Cardellini alisou o cabelo?!?

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Mais professor ainda

E a novidade que seria um sonho,
O milagre risonho da sereia
Gilberto Gil (A novidade)

No próximo semestre eu começo uma nova disciplina: Introdução à Odontologia. É uma disciplina do primeiro ano, os alunos são calouros, vindos diretamente do cursinho e da casa do papai, a maioria deles sempre teve tudo na vida (faculdade particular, $$$).

Vai ser extremamente desafiador, pois até agora eu só trabalhei com alunos "domados", ou seja, a Ortodontia, no quarto ano - quando eles já entenderam que serão profissionais e devem ter uma postura de acordo - ou na pós-graduação, quando eles já se formaram. Estou muito excitado com a perspectiva dessa nova experiência, espero me sair bem, afinal de contas é o primeiro contato da moçada com a Odontologia. Eu devo convencê-los de que essa é uma profissão digna e respeitável, que lhes trará realização pessoal e lhes permitirá sustentar suas famílias sem descambar para a bandidagem.

Tarefa árdua, mas eu vou encarar.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Cursos e mais cursos

Eu admiro o que não presta, eu escravizo quem eu gosto
Eu não entendo, eu trago o lixo para dentro
Marisa Monte (Tudo pela metade)

A Odontologia está em uma situação que beira o ridículo: profissionais mal-preparados mentindo para os clientes que cobram pouco, os clientes acreditando e os poucos dentistas que estudaram bastante se agarrando pelas paredes para conseguir pagar as contas. Nesse universo, ministrar cursos é uma beleza de acréscimo na renda, chegando a ser a principal atividade para alguns. É porque um diplominha a mais na parede pode ser uma bela jogada de marketing, então, quanto mais inútil o curso, melhor, porque não é preciso muito esforço para conseguir o tal diploma.

Talvez por isso a ABO esteja promovendo um "Curso de Odontologia Médica", assim, todo com letras maiúsculas, nome pomposo, tudo! Leia a matéria e, se você entender do que eles vão falar e qual a utilidade prática desse curso, por favor, me explique. Será que se eu estudar o vetor de força que atua sobre um bracket colado abaixo do ponto de resistência da raiz do pré molar, em caso de 4 extrações, eu vou aprender mais?

Acho que eu vou lançar um curso sobre "Limitações do marketing na Odontologia", para ensinar aos pobres colegas sobre as armadilhas que os marketeiros usam para nos tirar dinheiro. Será que eu fico rico assim?

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Finou-se

O risultado dessa travissia foi um sucesso triste, Virge-Ave-Maria
O risultado da bramura foi qui o ri levô os vaquêro, o dono, os burro e os boi, ai sôdade...
Elomar (Chula no terreiro)

Bom, então as duas velhas conhecidas do futebol brasileiro deram as caras: empáfia e soberba. Na verdade nossa seleção não jogou o suficiente nem pra chegar onde chegou, contou com a inferioridade técnica dos outros times. Se pega uma Argentina, leva de 4, no mínimo.

Não falo mais de seleção nem de copa, pelo menos não neste ano, prometo.

Toca o barco!

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Alemanha x Argentina

"Fome, miséria, incompreensão,
O Brasil é Treta Campeão"
Mamonas Assassinas (Cabeça de bagre)

Argentina jogou melhor, apesar de que eu torci pela Alemanha (fazer o que, tá nos genes, meu avô nasceu lá...). Mas a Seleção Argentina (aka 'curíntia'), no final, deu vexame. Partiu pra ignorância, quebrou o pau, comportamento digno de uma turba terceiro-mundo-católico-ditatorial-latina.

Vergonha, até de dizer que eu moro ao sul do equador. Êta, turminha porcaria!

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Desculpas

"Desculpe o auê
Eu não queria magoar você"
Rita Lee (Desculpe o auê)

Me desculpem, meus 4,5 eventuais leitores, pela explosão intempestiva do post de ontem... eu estava realmente em um estado de espírito dos mais ranhetas, baixou em mim o velho ranzinza e eu rasguei o verbo, mas acho que ninguém merece ler os desabafos dos inconformados. Me rôo de inveja (uau, eu sempre quis encaixar a palavra "rôo" no contexto certo, agora consegui!) das pessoas que conseguem sempre escrever algo leve e bem-humorado. Infelizmente eu não sou assim, paciência.

Mas hoje estou melhor, é aniversário de 13 anos da minha caçula vai ter festa. Eu acho que vou sobreviver a essa festa, vejamos.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Dentista bom!

"Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair... Deus lhe pague"
Chico Buarque (Deus lhe pague)

Eu gosto muito do Rolando Boldrin. Acho que ele tem talento e verdadeiro amor pelas coisas da terra, pela música e pelas pessoas. Assisto sempre ao programa dele, Sr. Brasil, que passa na TV Cultura, mas nunca me lembro do dia nem do horário, de forma que, às vezes, zapeando, eu topo com ele e assisto até o fim.

Ontem foi um dia desses, e ainda teve uma coisinha a mais: ele cantou uma música de sua autoria, cuja letra eu achei e transcrevo aqui (calma, eu vou falar coisas relevantes sobre essa música):

Moda do dente
(Rolando Boldrin)

Tava me alembrando agora, do tempo que eu fui banguela
Boca murcha repuxada, sem sorrir para as donzela
Ai moço que coisa triste, é ter a boca vazia
A gente não tem mais gosto, nem de puxar cantoria

O destino caprichoso, um castigo quis me dar
Eu fui medir força bruta com um baita dum marruá
Ele me apinchou no chão, bati feio em terra suja
Quebrei a cara inteirinha e os denti foi di lambuja

Tô com a boca consertada, graças ao doutor Mateu
Dente emriba dente embaixo, mió que os que Deus me deu
Nem cobrou pelo serviço, entendendo a situação
Sem cantar eu me matava, cantar banguela é que não

Hoje eu tô mais bonitinho, me falou a Graziela
Pois in ante era pouquinho o que eu sorria prá ela
Agora que nem criança, nós gargaia nos namoro
E se rendê as poupança, eu implanto um dente de ouro

Se a gente prestar atenção, o personagem/narrador da história tem verdadeiro apreço por seus dentes, tanto que ficou muito triste por tê-los perdido, perdeu até o gosto por puxar cantoria. Só depois de ter a boca 'consertada' pelo Dr. Mateu é que ele voltou a ser feliz, com dentes até melhores do que deus havia lhe dado - e aqui eu me pergunto o quanto ele havia cuidado desses dentes para achar que uma dentadura de acrílico ficou melhor.

Mas o detalhe que me chamou atenção foi que o Dr. Mateu "nem cobrou pelo serviço", ou seja, a brincadeira ficou de graça pro violeiro. Êta, dentista bom! Sim, porque dentista bom é aquele que vive de brisa: quando está com fome sai lá fora, abre a boca e se alimenta do ventinho fresco da manhã, ou do mormaço da tarde. Quando precisa de roupa é só sair de casa que o vento se encarrega de vesti-lo. O mesmo vale para a mulher e os filhos desse dentista.

E, no final, feliz com a dentadura nova, o violeiro ainda guarda dinheiro para implantar um dente de ouro. Para fazer a boca funcionar ele não tinha dinheiro, mas para embelezar a plataforma ele faz poupança. É triste ver como a minha profissão é execrada pela população em geral. Quando me formei eu achei que ingressava em uma profissão digna, onde eu poderia ajudar as pessoas, sanar suas dores, permitir que um melhor funcionamento da boca melhorasse a alimentação, melhorar sua aparência e me sustentar com meu trabalho. Mas o que eu vejo é que o dentista só é valorizado quando "faz de graça". Nem a uma prostituta se pede tanto.

Hoje eu ouvi de uma colega que eu cobro caro. Ora, eu estudei a minha vida toda, graduação, mestrado, doutorado, sou professor de cursos de graduação e pós-graduação, pesquisador, tenho clínica há quase 20 anos... Raios, se achou caro, procure outro!

Irra!

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Pasta de dentes

"Vivemos sob o mesmo teto, um amor pode durar um século
Você fala, e eu não mais te escuto, nosso amor não passou de um minuto"

Rita Lee (O amor aos pedaços)

Quanto dura um tubo de pasta de dente? Com certeza menos do que deveria. Por ser baratinho e uma coisa que ninguém ousa duvidar da utilidade, não se fala no assunto, mas, como tudo na vida, sempre tem um espertinho fazendo você gastar mais do que deveria.

Eu não sou muito bom de história, vivo esquecendo as coisas, principalmente datas, mas depois da segunda guerra mudial as fábricas de cosméticos dos EUA instituíram um concurso interno para estimular o aumento do uso de pasta de dentes. Todo mundo já usava, mas usava pouco. Não tinha muito pra onde correr, porque tudo mundo sabia que tinha que usar, as campanhas educativas estavam na rua, mesmo assim o consumo era pequeno. Até que um funcionário, que trabalhava na linha de montagem dos tubos, teve uma grande idéia: aumentar o tamanho do buraco no bico do tubo. Assim, quando o consumidor for colocar a pasta na escova, sai mais, ele consome mais e compra mais. Mais dindim no bolso dos fabricantes.



Essa imagem, com o tubo de pasta paralelo à escova, sugere à vítima (você, caro consumidor) que esta é a quantidade correta de pasta. Mas se você pensar um pouco, verá que isso não é necessário. Alguns fatos:

  1. O que limpa os dentes não é a pasta, é a escova.
  2. Pasta de dentes é um cosmético. Ajuda, mas não é imprescindível na escovação. Contém água, perfume, flavorizante (sabor), detergente, abrasivo e flúor (esse, sim, importante).
  3. Uma boa escovação pode ser feita só com água. Aliás, a maioria das técnicas de escovação desaconselha o uso da pasta, para que você possa ver o que está fazendo. Depois de escovar na técnica, aí você pode colocar a pasta e dar uma segunda escovada, para ficar com um sabor agradável na boca e a sensação de um hálito fresco.

O que ninguém diz é que a quantidade pode - e deve - ser menor, principalmente para crianças. Estas costumam engolir um pouco da pasta, que contém flúor. O flúor, embora já tenha comprovado exaustivamente seus efeitos benéficos para os dentes, é tóxico quando ingerido em grandes quantidades. Ora, a água da maioria das cidades brasileiras já tem um pequeno percentual de flúor, então não é mais necessária a administração de flúor sistêmico. Normalmente a quantidade de flúor contido nos dentifrícios (principalmente nos géis) é muito grande, porque eles são feitos para uso tópico. Se ingeridos, podem causar fluorose, a longo prazo.

Então, se você segurar o tubo de pasta de dente perpendicular à escova a apertar com parcimônia, vai usar uma quantidade mais razoável do produto, o que é muito aconselhável. Se você for uma pessoa extremamente nojenta (que sente nojo de tudo) e não suporta a idéia de encostar o bico do tubo na escova de mais de uma pessoa, compre um tubo só pra você. Vai durar uma eternidade.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

As letras das músicas (corrigido)

"Mangueira, a minha música não é de levantar
Poeira
Mas pode entrar no barracão"
Tom/Chico (Piano na Mangueira)

Eu sempre tento colocar um trecho de letra de música no início de cada post, um trecho que tenha algo a ver com o que eu vou escrever. Algumas buscas no Google apontam para o meu blog por causa desses trechos, então eu vou colocar aqui um link com 'trocentas letras de músicas, para quem quiser:

www.webletras.com.br

Divirtam-se!

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Tabelinha

"Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando voce entrou em mim como um sol num quintal"
Belchior (Divina comédia humana)

Aqui em Campo Grande foi feriado ontem. Dia de Santo Antônio, padroeiro da cidade. Êta, feriadinho na hora certa!!! Acordamos tarde, fizemos churrasco, assistimos ao jogo, festejamos, cervejamos, uma beleza.

Os horários dos jogos, aqui, no Centro-Oeste:

13/06 (terça), 15:00h
18/06 (domingo), 12:00h
22/06 (quinta), 15:00h

8ª de final
27/06 (terça), 11:00h (para o primeiro colocado do grupo classificatório) ou
26/06 (segunda), 11:00h (segundo colocado)

4ª de final
01/07 (sábado), 11:00h (primeiro colocado) ou
30/06 (sexta), 11:00 (segundo colocado)

Semifinal (se chegar até aqui, tomara!)
05/07 (quarta), 15:00h (primeiro colocado) ou
04/07 (terça), 15:00h (segundo colocado) e...

FINAL
09/07 (domingo), 14:00h

Aos moradores de outros rincões, lembrem-se que aqui o relógio bate uma hora antes.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Copa do mundo de futebol

"Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só se eu fosse o rei"
Chico Buarque (O Futebol)

Tá, eu confesso: eu gosto de futebol. Eu gosto de copa do mundo, porque os jogos são bonitos de se ver. Hoje eu vi o melhor jogo da copa até agora, República Tcheca (que os tchecos chamam de Bohemia) contra Estados Unidos. Os tchecos atropelaram os americanos solenemente, mas os gringos também tiveram seus momentos, apesar de não fazerem nenhum gol. Mas foi um jogo bonito, belas jogadas, jogadores habilidosos, uma beleza! Eu só tenho medo dessa seleção tcheca jogar contra o Brasil.

Ichhhh.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

O alvo errado (de novo)

"De tanto levar frechada do teu olhar,
Meu peito até parece, sabe o que?
Tauba de tiro ao álvaro!"
Adoniran Barbosa (Tiro ao alvo)

Eu não vou negar que eu acho o MST e suas sub-siglas baderneiras a maior expressão do subdesenvolvimento deste país. Quando as instituições são desafiadas abertamente, como no caso dos tumultos em Sampa e em MS, patrocinados, segundo as 'autoridades', pela bandidagem organizada, é porque o governo já não governa, a polícia não policia, o judiciário não julga, a prisão não prende, essas coisas.

Agora os baderneiros resolveram invadir a câmara dos deputados. Entraram lá, quebraram tudo (menos a cara-de-pau dos deputados), deram uma sova nos seguranças - que estavam desarmados, pelo jeito - e foram presos. Acusados de depredação do patrimônio público, formação de quadrilha e tentativa de homicídio. E, mais uma vez, a justiça erra o alvo.

É claro que eu sou contra a ação dos baderneiros, são bandidos travestidos de militantes de movimentos legítimos, devem ser punidos na pena da lei, sem dó nem piedade, mas eu começo a duvidar que neste país as punições aconteçam de verdade. Ou, melhor, acontecem, sempre do lado mais fraco. Sem defender a ação dos bandidos, longe de mim uma coisa dessas, mas só preto, pobre, ferrado e detonado é que vai preso. Se o cara é rico, dá um jeito de sair. O Lalau saiu. O Cacciola conseguiu um habas corpus e fugiu para a Itália (deviam prender o juiz no lugar dele). A Suzane está em casa. Quem está a ferros são os Cravinhos, que são mais pobres, embora tão assassinos quanto.

E até agora ninguém falou que quem deveria ser processado por depredação do patrimônio público, formação de quadrilha e outros tantos crimes abjetos são os senhores deputados, que estão lá, bebendo uísque importado e viajando de jatinho, no luxo de seus gabinetes com ar-condicionado. Eu, pra falar a verdade, gostaria muito de dar uns tapas na cara de uns deputados por aí. Aliás, pouquíssimos se salvam: tem o..., tem aquele outro..., tem também o...

Puxa, tá difícil!!!

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Pessoas que "falam verdades"

"Eu não sei dizer, nada por dizer
Então eu escuto. Fala... fala!"
Luli & Lucina (Fala)

Existe um tipo de gente completamente insuportável. São as pessoas que adoram falar 'umas verdades' para as outras. Entupidas de boas intenções, acham que sempre estão fazendo o bem ("eu sei que isso vai te magoar, mas é pro seu bem") e chamando 'nos brios' on infeliz que tem que ouvir as tais 'verdades'. O pequeno detalhe é que a pessoa que ouve não quer ouvir. O pobre coitado, normalmente, já está careca de saber o que vem dali, já está deprimido com a situação, pensa penosamente em uma maneira honrada de sair dessa sem esfregar a cara no chão. Aí vem o sabidão: "Olha, se você não se tocar a casa vai cair e o jacaré te abraça! Eu sei que isso vai te magoar e etc... você tem que acordar, tem que tomar jeito, se não a casa cai, etc, etc, bla, bla, bla".

E o pobre coitado, além de ter que lidar com a situação ainda tem que ouvir do 'bem intencionado' a esculhambação, que é pro seu próprio bem. E agradecer, porque se ficar bravo é um mal-agradecido, pois "eu só fui lá abrir os olhos dele e ele me recebeu com duas pedras na mão!". Pois é, além de estar f*****, ainda tem que limpar, agradecer, rastejar. Ô, situação desgraçada. Eu espero sinceramente, caro leitor, que você não encontre um desses pela frente, apesar de que eu tenho quase certeza que você conhece um assim, que você leu isso e disse: "Esse cara conhece o fulano!"

Não é?

Filosofia de bar

"Se for dirigir, não beba.
Se for beber, me chame!"

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Os dentes do nosso ministro

"Nem unha encardida, nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem"
Edu Lobo-Chico Buarque (Ciranda da Bailarina)

Comentei outro dia aqui sobre os dentes do ministro da Bolívia e vi que no google muita gente acessou este blog para ver o danado. Pois nesta semana eu, antes de abrir a revista Veja, me deparo na capa com uma foto do nosso ministro da justiça, Marcio Thomaz Bastos, exibindo dentes de fazer inveja a qualquer boliviano! Dentes sujos, visivelmente mal escovados, com manchas amareladas de nicotina e anos de cálculo supra-gengival pedindo remoção. Boca de terceiro-mundo, direis. E vos direi, no entanto: concordo.

Assim, o nosso rico rincão se irmana a um dos países mais miseráveis do mundo, no quesito boca de ministro. É um exemplo frustrante para quem batalha no ambiente bucal brasileiro, ver um ministro de estado nesse estado. É, na melhor das hipóteses, um link direto para o subdesenvolvimento terceiro-mundista-católico-latino-tropical. A Bolívia, cujos habitantes são, em grande maioria, pessoas humildes e que lutam tanto quanto nós para sobreviver - se não mais - acaba ficando conhecida por ser o país onde morreu Che Guevara e que deu o maior calote no Brasil, impunemente. Agora, também, pelo ridículo da boca de seu ministro. Mas seria até de se esperar de um país que vive uma realidade de Arábia sem petróleo, com um cocalero na presidência, tivesse um ministro meio esquisito. Nada contra a Bolívia, pelamordedeus, eu admiro o povo boliviano, mas a realidade é que eles pisaram na bola com a eleição desse presidente, tanto quanto nós pisamos elegendo o Lula, mas isso é outra história.

Então eu conclamo os periodontistas do Brasil: vamos fazer uma campanha pela boca saudável do ministro da justiça, para que quando o presidente do Grande Irmão vier aqui não confundir Brasília com La Paz.

Em tempo: será que a foto que eu vi na capa da Veja não é uma montagem? Eu sei que o ministro nunca usou armadura, mas me pergunto se eles não montaram aqueles dentes também...

quinta-feira, 1 de junho de 2006

O futuro

Boa terra, velha esfera, que nos leva aonde for
Pro futuro, quem nos dera, que te dessem mais valor
Almir Sater (Mês de maio)

No futuro eu não vou precisar de computador de mão, vou vender meu Palm. Ou dar de presente para alguém que ainda anda pelas ruas. Eu gosto dele, mas não vou mais precisar, porque o meu computador desktop vai estar sempre à mão.

Eu não vou mais precisar de celular. Hoje eu já não gosto dele, amanhã vou jogar na privada e dar descarga, ficar olhando ele rodar na água e ir embora para onde ele merece: o esgoto. Nunca mais ele vai me incomodar com a sua musiquinha ridícula, me obrigando a parar tudo para falar com uma pessoa com que eu não quero falar.

Eu não vou precisar de telefone também. Conexão de internet está bom demais. Um bom computador, no qual eu possa estar em contato com as notícias do mundo, mas sem interagir com pessoas, porque pessoas me aborrecem cada vez mais. Um computador onde eu possa ver TV e mandar e-mail, quiçá um papo no MSN, algo assim. É incrível como o computador, cada vez mais, colabora para que um nerd eremita se torne ainda mais nerd e ainda mais eremita. Hoje em dia ele é a pessoa que menos me incomoda. É verdadeiro, honesto, brutalmente sincero. Eu o entendo, mesmo que às vezes ele não consiga me entender. Mas ele não me incomoda.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Linux

Criar meu website, fazer minha home-page
Com quantos gigabytes se faz uma jangada,
Um barco que veleje, que veleje nesse infomar?
Gilberto Gil (Pela internet)

Estou postando hoje usando o Firefox de dentro do Linux, minha mais nova paixão na informática. Estou apanhando como gente grande, não do Linux em si, que é um sistema relativamente simples pra quem vem do windows, mas é que eu quero instalar meu programa do consultório, que roda em windows, dentro do Linux... aí já viu, tenho que instalar emulador, configurar mil e uma variáveis, uma loucura.

Estou me sentindo meio como quando tive minha primeira aula de clarinete, na flor dos meus 40 anos. Eu toco violão desde criança, comecei com o 7 cordas quando tinha lá meus 14 anos e já conhecia bem o violão de 6, então o clarinete foi uma coisa completamente nova pra mim. Além do mais, resolvi estudar direito, por música, e eu não sabia ler. Ou seja, tive que aprender a ler e a tocar um instrumento completamente diferente do que eu estava acostumado. Aprendi mais ou menos, preciso voltar às aulas, agora que não tenho mais a desculpa do doutorado.

Mas o Linux e seus emuladores estão me tirando o sono, mesmo.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Família

"Vaca profana, põe seus cornos
Pra fora, e acima da manada"
Caetano (Vaca profana)

Então eu recebi uma piada que me fez rir, em um semana em que eu não tive muitos motivos para isso:

A família comia tranqüila quando, de repente, a filha de 10 anos comenta:

- Tenho uma má notícia... Não sou mais virgem! Sou uma vaca!

E começa a chorar, visivelmente alterada, com as mãos no rosto e um ar de vergonha. Silêncio sepulcral na mesa. De repente, começam as acusações mútuas:

- Isto é por você ser como é! - marido dirigindo-se à mulher - Por se vestir como uma puta barata e se arreganhar para o primeiro imbecil que chega aqui em casa. Claro que isso tinha que ocorrer, com este exemplo que a menina vê todo dia!

- E você - pai apontando para a outra filha de 25 anos - que fica se agarrando no sofá e lambendo aquele palhaço do teu namorado que tem jeito de veado. Tudo na frente da menina!

A mãe não agüenta mais e revida, gritando:

- E quem é o idiota que gasta metade do salário com as putas e se despede delas na porta de casa? Pensa que eu e as meninas somos cegas? E além disso, que exemplo você pode dar se, desde que assinou esta maldita TV a cabo, passa todos os finais de semana assistindo a pornôs de quinta categoria e depois se acaba em punhetas, com direito a todos os tipos de gemidos e grunhidos?

Desconsolada e à beira de um colapso, a mãe, com os olhos cheios de lágrimas e a voz trêmula, pega ternamente na mão da filhinha e pergunta baixinho:

- Como foi que isso aconteceu, minha filha?

E, entre soluços, a menina responde:

- A professora me tirou do presépio! A Virgem agora é a Vanessa, eu vou fazer a vaquinha...


Comunicação, comunicação...