Normas

Da Paraíba para o mundo, com amor:

Todo o material publicado nesta página representa o ponto de vista parcial e preconceituoso de um indivíduo do século passado. Se você achar aqui afirmativas que lhe pareçam sexistas, xenófobas, racistas ou, de qualquer outra maneira, ofensivas a seus pontos de vista, pare de ler imediatamente. Ou prossiga, a seu próprio risco. Ou não.

Use antes de agitar: leia as normas do blog e lembre-se: comentários são moderados. Anônimos não serão publicados.

E aproveite que eu sou professor: se você achar que eu posso ajudar, mande um e-mail para mrteeth@ghersel.com.br

domingo, 19 de dezembro de 2010

Fim de ano

Pois vendo valente e tão leal seu povo
O rei fica contente Porque é Ano Novo
Ano Novo (Chico)

Ano terminando, mais um ano que eu passei sem escrever nada que preste. Eu bem que tentei, mas não consegui. Se não consigo, não coloco aqui, certo?

Bom, 2010 termina, vamos ver se 2011 vai ter alguma novidade digna de nota. Posso até adiantar alguma coisa, referente a nota mesmo: voltei a ser professor de Ortodontia este ano. A primeira experiência foi realmente desafiadora, tive que montar a disciplina do zero. Ainda bem que tenho ótimos colegas, que me deram um apoio fundamental na empreita, mas mesmo assim o trabalho é árduo. E são duas disciplinas, Ortodontia I e II.

Consegui levar, a duras penas, com vários feriados em dia de aula, a Orto I. Próximo período eu tenho as duas para levar, paralelamente. Mas eu confio que a Orto I já está encaminhada e a II vai pelo mesmo caminho. Escreverei meus resultados, prometo que no próximo ano serei mais assíduo.

Grande Natal e Ano Novo a todos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Outra perda - Arnaud Rodrigues

Urubu tá com raiva do boi, e eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo comer, mas o boi não quer morrer
Não tem alimentação
Urubu tá com raiva do boi (Baiano e os Novos Caetanos)

Eu normalmente não gosto de humoristas. Acho que a maioria do humor no mundo é escrachado demais, apoia-se em expedientes rasteiros como palavrões, clichês e piadas preconceituosas sobre raça, orientação sexual, cor da pele ou origem das pessoas. Pouquíssimos são os humoristas que conseguem escapar dessa praga, e Arnaud Rodrigues era um deles. Acho que ele nem era humorista mesmo, era um cara muito inteligente que tinha bom humor. Resolvia algumas falhas do Chico Anísio, que é quase tão inteligente quanto ele.

Pois o Arnaud Rodrigues, que compôs com o Chico Anísio a dupla de músicos mais descolada que já aconteceu na música brasileira, morreu no final deste carnaval, afogado em um estúpido acidente de lancha. Mais uma grande perda para a música brasileira. Assim, só vão sobrar os Beatles...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Um post recondicionado

Uma vez eu escrevi sobre o carnaval neste blog. Todo ano eu tento escrever mais, mas sempre acabo achando que o post original disse tudo, então eu coloco link pra ele. Hoje eu vou fazer diferente: vou colocar o post inteiro aqui, veja só:

Lembranças do carnaval

Um post de 02/03/2006

Gostar é uma coisa, participar é outra

"Findo o carnaval, nas cinzas pude perceber
Na apuração perdi você (pois é, dancei)"
Jorge Aragão (Enredo do meu samba)

Eu adoro carnaval. Acho uma época fantástica, o clima de alegria, a descontração e a animação país afora. São feriados de muito calor, dá uma impressão de irresponsabilidade, as pessoas parecem mais felizes e tudo é colorido, livre, solto. Eu acho o carnaval a festa da esbórnia, por excelência. E é. Afinal, essa era a grande festa pagã da carne (a carne vã, carneval, carnaval) que foi adotada pelo cristianismo, para marcar o início da quaresma, época de jejum e penitência em que se deveria fazer uma reavaliação da vida, muita oração e uma outra festa no final, de renascimento, a páscoa.

Cada um aproveita como prefere

''Tomara que chova três dias sem parar, tomara que chova três dias sem parar
A minha grande mágoa é lá em casa não ter água, eu preciso me lavar"
Paquito (Tomara que chova)

Sempre no carnaval eu durmo muito, bebo razoavelmente (não sou de encher a cara, mas gosto muito de cerveja), faço meus churrascos, assisto uns filmes, às vezes estudo um pouco - meu novo desafio é a linguagem PHP, para melhorar meu site - enfim, tudo menos samba e suor. Nem assisto ao desfile das escolas de samba pela TV, prefiro alugar um DVD e ficar analisando os extras. Neste ano eu tentei conseguir a série "Kingdom Hospital", do Stephen King, mas não encontrei em lugar nenhum. Êta, cidadezinha pobre, essa minha. Além disso a minha filha mais velha resolveu ir aos bailes em um clube e eu tive que levar e buscar depois, nada que tenha me deixado revoltado. Enfim, carnaval pra mim é descanso, moleza, preguiça...

Atualização de 2010: A Tica foi pro RN curtir o carnaval. Se ela quiser ir a algum baile, já tem mais de 18 anos e carro, não preciso mais levar e trazer. A Teca está em casa e não vai sair porque também não gosta de carnaval. Eu fico trabalhando em um artigo para publicar no próximo mês. Ainda bem que tem internet e TV a cabo.

Mas já não é o mesmo

"Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções"
Carlos Lira/Vinícius (Marcha de quarta-feira de cinzas)

Só que agora o carnaval mudou muito. Já não se ouvem músicas 'de carnaval', a violência é uma preocupação constante, o modelo exportado de micaretas, bicaretas, picaretas pelo país afora e em épocas diferentes do ano. Virou uma indústria de milhões, como quase tudo o mais por aí. Já se foi a época em que era uma brincadeira inocente na rua, com bandinhas tocando marchas e as crianças enchendo a boca dos outros de confetes. Hoje a festa é profissional, planejamento, cordão de isolamento, desfile, som, iluminação, segurança (?), TV, transmissão. Hoje o carnaval não é mais festa, é investimento.

Culpa dos cariocas

"Enquanto a malandragem fazia a cabeça
O indicador do defunto tremia"
Bezerra da Silva (Defunto caguete)

Os cariocas se julgam 'donos' do carnaval, mas na minha humilde opinião são os responsáveis pelo início da esculhambação da festa. Tá, você pode argumentar que carnaval é, por definição, uma festa esculhambada, mas organizar esculhambação já é demais. Eu não concordo com o luxo das 'escolas de samba' (pô, precisa escola pra samba? E aquela máxima que diz que samba não se aprende na escola?!?), dos seus desfiles cheios de regras, competição com notas em que se contam centésimos de pontos, campeonato, plumas, paetês, propinas de empresas estrangeiras e orçamentos milionários. Além disso, todo esse esquema está nas mãos de traficantes, todo mundo sabe disso. Tráfico é crime organizado, muito mais organizado do que o nosso governo eleito. Tráfico é violência, morte, degradação. É isso o carnaval carioca, uma interface bonita para o lixo do Rio. Parece até o windows.

Culpa dos baianos

"Todo dia é de festa na Bahia
E o trio irradia alegria
Farol ilumina Salvador"
Netinho (Beijo na boca)

Cada um tem o carnaval que merece. Na Bahia apereceu a praga do axé, mistura indigesta dos ritmos afro-brasileiros com a mixórdia afro-espanhola do caribe. Ou seja, uma coisa inventada que ninguém mais sabe de onde veio nem pra onde vai (acho que eu ainda estou falando do windows...). Passa longe do samba. Foi exportado com os trios elétricos para todo o país, virou coisa de gente grande (grande de grana) e tomou conta. Agora até no Rio se faz carnaval com axé. Pior: os defensores de outros ritmos e estilos resolveram também botar as mangas de fora e o carnaval assumiu ares regionais: com raggae no Maranhão, com boi-bumbá no Pará, e sabe-se lá mais o que. Falta um carnaval em Mato Grosso do Sul com polca e chamamé, até que ia ser interessante...

Culpa da TV

"Porque o samba nasceu lá na Bahia, e se hoje ele é branco na poesia
Se hoje é branco na poesia, ele é negro e demais no coração"
Baden Powel/Vinícius (Samba da bênção)

Samba? Que nada! Já se foi o tempo. Não é samba o que se toca nos desfiles, nem nas fesas, nem nos clubes ou nas ruas. Arremedo do que já foi "o" ritmo do Brasil e do carnaval. O carnaval já não é festa popular, é festa da TV, dos políticos, dos camarotes, dos gringos, dos bandidos, das grandes empresas, das bichas, dos trios eléticos, dos computadores, da grana. O carnaval já foi. Agora é dormir, tomar cerveja e assar churrasco, que é melhor.

Culpa minha

"Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 76
Eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês"
Belchior (À Palo Seco)

Parece que eu vivi há cento e tantos anos a glória e a inocência dos passados carnavais e tive um surto de saudosismo, mas a verdade é que eu nunca gostei de bailes de carnaval. Não por isso nem aquilo, é que eu não gosto de nada que reúna muita gente. Quem me conhece sabe que eu sou meio eremita e estou piorando a cada ano. Gosto da solidão, me sinto bem comigo mesmo e a companhia de seres humanos cada vez menos me faz falta. Assim, nunca fui entusiasta de carnaval, mas eu gosto da idéia da coisa. Tá, não vou negar que já fui a festas, na minha adolescência e até depois disso, mas nunca me entusiaismei com a idéia. Ia, pra não parecer diferente do resto do mundo, ia na turma, mas achava aquilo tudo muito esquisito, muita gente suando e fedendo, uma briga ali, uma maconha aqui, um bando de machos loucos procurando mulher ou confusão... eu saía sempre sozinho, cansado, sujo, desgostoso. Quando eu descobri que eu não precisava IR no carnaval para ser normal foi a glória. Eu podia arrumar namorada de outro jeito. Eu podia me divertir ou até curtir o carnaval de outras formas. E sou assim até hoje. E estou piorando.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Adeus, Pena Branca! (Atualizado)

A tua saudade corta feito aço de navaia
O coração fica afrito, bate uma, a otra faia
E os óio se enche d'água...
Que até a vista se atrapaia.
Cuitelinho (Folclore do Pantanal)

Morre um dos últimos representantes da legítima música caipira brasileira. Sem a choradeira e a dor-de-corno dos sertanojos que se dizem músicos, mas que nunca viram uma partitura na vida. Que se dizem sertanejos mas nunca viram uma vaca de perto. Pena Branca e Xavantinho eram músicos "de raiz", músicos radicais, que cantavam a simplicidade e a vida do campo. Sem afetações, sem copiar country americano, sem palhaçada.

Gravaram coisas históricas como O Cio da Terra, Calix Bento e Cuitelinho, canções que nem caipira são, mas que tomaram o jeito caipira na voz da dupla. Chamá-los de "sertanejos" é uma desonra. Uma afronta. Eram caipiras, sim, de boa cepa, puros de origem e orgulhosos da música que faziam. Não ficaram ricos, mas fizeram um Brasil mais rico, em sua cultura, em sua diversidade, em seu povo.

É realmente uma pena. Aos poucos, infelizmente, nossa música vai perdendo o que tinha de melhor, às custas da ganância de alguns desclassificados que enfiam goela abaixo da moçada os gêneros importados. Aqui no nordeste, onde imperava o forró pé-de-serra, vejo com pesar a invasão do sertanojo, da pior qualidade. Ainda se ouve forró dos bons, mas só em locais freqüentados por corôas ou turistas.

Por outro lado, volto a escrever aqui o que já afirmei em outro post (agora não me lembro e estou com preguiça de pesquisar)*: a música Cuitelinho é do folclore do Pantanal, que fica no Mato Grosso do Sul (a melhor parte dele, pelo menos). Veja no mapa, se duvida.


Atualização: Achei o post que fala da música.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fim de ano na Paraíba

Venho para a festa, sei que muitos têm na testa
O deus-sol como sinal
Gilberto Gil (Palco)

Pela primeira vez passei o final de ano longe de Campo Grande. Passei aqui, na Paraíba. Vieram "os caras*", a Tia Lelé, minha mãe e a... bom, eu vou classificar a Japa como 'acompanhante' da minha mãe, já que ela já passou do status de empregada (que era no início) e se tornou meio que uma babá de luxo. Com direito a férias no nordeste, veja só!

O Natal foi tranquilo**, bem festa de casa de praia, com uma árvore bem simples que eu comprei na internet e presentes baratinhos pra todo mundo. A minha família não tem mais crianças, e natal sem criança perde 90% da graça.

No Ano Novo as coisas são diferentes... aqui o povo tem o costume de fazer a festa na rua. Eles montam tendas na avenida da praia, pra lá levam comidas, bebidas e equipamentos de som, muuuitos, mas muitos equipamentos de som mesmo! Paredões de alto-falantes! E tome forró! Em um volume incompreensivelmente alto. Tá, eu sei que muita gente gosta de ouvir música alta, mas eu achei um pouco demais. Começa lá pelas 11:30 da noite e só termina bem depois do sol nascer. Se alguém quiser dormir antes disso, é bom que não fique por perto. Eu, que moro na avenida da praia, nem tentei. Minha mãe tentou. Claro que não conseguiu. Também não conseguiu ouvir a tv. Só acabou a festa lá pelas 07:00h.

Eu fiquei esperando o sol nascer, tomando uma cerveja e curtindo a festa na rua. Quando começou a clarear, fui para a praia e, apesar dos protestos do povo que me achou biruta, entrei no mar, pra ver o sol nascer. O mar tava alto, mas mesmo assim foi bom. Voltei pra casa sujo, molhado, cansado, meio ressaqueado, mas feliz. Tomei banho e fui dormir. Só acordei quando esse dia estava terminando.

Agora eu estou preguiçando em um começo de ano que quase não tem o que fazer. Vou à praia quase todo dia, durmo muito e bebo muita cerveja. Dia 21 recomeça o batente.

Um feliz 2010 a todos vocês.

* Os caras são os meus sobrinhos.
** Eu, mesmo sabendo que deveria, me recuso a usar trema. Acho que é, além de completamente desnecessário, um arcaísmo ridículo, que deveria ter sido abolido naquela reforma ridícula. Ou foi?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A hora do blog

Eu surpreendia o sol antes do sol raiar,
Saltava as noites sem me refazer
Chico Buarque (
Valsa Brasileira)

Às vezes eu encontro umas migalhas da minha vida no Mato Grosso do Sul e ainda me espanto com o porque delas existirem. Um aparelho que só funciona em 110v, uma correspondência com o endereço de lá ou até um telefonema de alguém que achou, sabe-se lá como, meu telefone daqui e simplesmente não acredita que eu tenha me mudado. Hoje foi um desses dias, mas o que eu encontrei não foi nada físico. Eu encontrei o horário do blog.

Relendo o post sobre as músicas do Caymmi, eu vi que o horário do post não combinava com a hora que eu afirmei ter chegado em casa. Aí eu vi que o blog ainda estava com o horário de Campo Grande, que é GMT-4, uma hora a menos que o Brasil "civilizado". Na verdade eu sempre achei ridículo ter esse fuso horário diferente no Brasil, achava que todo o país deveria ter o mesmo horário, isso só atrapalha a vida da gente. Oras, tem lugares em que às 22:00h ainda é dia, e ninguém reclama. Hoje eu ainda penso assim, mas já entendo melhor o porque de horários diferentes: aqui amanhece às 4:30h da manhã e, às 18:00h já é noite fechada (com estrelas no céu, quando não há nuvens). Lembro bem do horário de verão em Campo Grande, quando às 06:00h da manhã a gente via os primeiros raios de sol e às 20:00h ainda tinha claridade suficiente pra terminar a caminhada diária no parque.

Então eu já acertei o relógio e estou no horário certo. Cada vez mais me distancio de minha vida antiga no MS, cada vez mais essa fase se torna um amontoado de lembranças difusas. Estou perdendo a maioria das referências físicas que tinha lá. Minha mãe se mudou aqui para a Paraíba e deixei poucos (mas bons) amigos. Agora, o último relógio com o horário do Centro-Oeste foi acertado.