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Da Paraíba para o mundo, com amor:

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terça-feira, 1 de maio de 2012

A discriminação racial legalizada no Brasil

E na gente deu o hábito de caminhar pelas trevas,
De murmurar entre as pregas, de tirar leite das pedras

Rosa dos Ventos (Chico)


A legalização do ilegal
No Brasil, até agora, a discriminação racial era ilegal.  
Não mais.  
Nossa constituição diz que a cor da pele não é indicativo para se classificar o cidadão.  
Não mais.


Hoje, se você, caro leitor, quiser entrar em uma universidade federal, deve provar que sua pele condiz com as condições necessárias a tal ato.  Não precisa mais estudar.  Não precisa mais se esforçar.  Basta ter a cor certa.  Ou errada, nem sei mais.  O ilegal, imoral, indecente de ontem foi legalizado, institucionalizado, permitido, tornado bonito.  Classificar a pessoa pela cor da pele tornou-se, de desprezível, necessário, legal.


Os juízes do STF rasgaram a constituição em mil pedaços.  Bandidos!  A constituição era, até há pouco, a peça que tentava igualar as pessoas, que fazia por manter a lei e a ordem em um país tão sem ordem como o nosso.  Hoje, a desigualdade é a lei.  Todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.  Acabou-se a igualdade, afrontou-se o princípio fundamental que igualava os cidadãos.  Criam-se castas, criam-se classificações.  Cidadãos de primeira e segunda classes.


A grande pergunta: quem determinará se o candidato tem a cor certa?  Quem se habilita a tal julgamento?  Você se meteria nessa roubada?


A questão da capacidade
Eu sou professor universitário, sei bem como alguns alunos chegam ao último ano da faculdade.  Muitos não sabem o básico para exercer a profissão, e acabam se formando mesmo assim.  A maioria sequer é capaz de escrever um texto em bom português.  E esses alunos passaram por um vestibular duríssimo, teoricamente estudaram em boas escolas (afinal, não entraram por sistema de cotas, são os 'privilegiados' da sociedade).  


Só consigo imaginar, petrificado, o nível dos alunos que vão entrar na universidade, daqui para a frente.  Sim, porque na universidade, o difícil é entrar.  Depois que está lá, o aluno se forma, mais cedo ou mais tarde, sabendo ou não a profissão.  É um fato.  Professor nenhum está disposto a assumir a tarefa de filtrar maus profissionais do mercado.  Então, entrou, a formatura é praticamente certa.  Se o nível dos que entram diminui, é certo que o nível dos formandos seguirá a mesma tendência.  Médicos, engenheiros, cirurgiões dentistas, matemáticos...  imagine um desses cuidando de sua saúde ou projetando a sua casa.  Não há exame no final do curso.  Só para advogados.


E funciona?
Pois é, se funcionasse seria ótimo.  Estou cansado de ver profissionais formados que não conseguem emprego, que não têm sucesso na carreira.  Muitas vezes, bons profissionais, mas sem as chances e oportunidades certas, não têm condições de melhorar de vida.  Mirando na melhoria da vida de alguns, piora-se a vida de outros.  Um estorvo que não vai resolver problema algum, ao contrário, só criará outros.  Será que um diploma universitário vai, realmente, melhorar a vida do cidadão?  Deveria mesmo, pois as oportunidades para alguém formado, aqui no Brasil, são muito melhores.  Mas isso depende da pessoa: não basta ter oportunidades, deve-se saber aproveita-las.  E isso não se ensina em universidade alguma.


Me processem, por favor!
Se for comentar, por favor, seja educado.  O blog é meu e eu apago os comentários anônimos ou dos que não argumentam com um mínimo de educação, então, pense bem antes de escrever.  Este é o momento em que você, que está lendo isso, vai ficar com vontade de brigar comigo, e esse é um direito seu, assim como é direito meu escrever isto:


EU SOU DISCRIMINADO!
Homem, branco, meia idade, formado, classe média...  estou fodido!  Eu sou o saco de pancadas da sociedade.  Meus direitos?  Pagar pela farra de deputados, senadores e Carlinhos Cachoeira da vida. Sou eu, sempre, o último em tudo.


Fila?  Tem sempre alguém para entrar na minha frente, seja um velhinho de cabeça branca, uma mulher grávida ou com um moleque no colo, enfim, mesmo acordando de madrugada e chegando cedo, sempre tem um bando de desocupados para entrar na minha frente.  Já vi adolescente levar a avó para a fila, para poder entrar na minha frente.  Já vi gente alugando criança na porta da central de recadastramento eleitoral, para poder furar a fila.  É claro que eu, homem, não posso nem pegar um bebê alugado, isso é só para mulher.  Ou seja, além da cor da pele, importa também, em alguns casos, o 'equipamento' que a pessoa carrega entre as pernas.


O imposto de renda, para mim, é extorsivo, pois meu salário de professor mal dá para as minhas despesas.  Acabei de ler: um parlamentar corrupto ganha o salário de 344 professores.  E eu pago o salário desse parlamentar em que não votei e, se pudesse, mandava de volta para casa ou para a cadeia.


Educação, saúde e segurança deveriam ser o mínimo que o governo me proporcionaria, em troca do meu dinheiro.  Hoje eu sou obrigado a pagar escola particular para os meus filhos (porque escola pública no Brasil é, vamos ser sinceros, UMA MERDA!), ter um plano de saúde particular e investir pesado em segurança para a minha casa.  O governo não me proporciona um serviço decente sequer, e eu ainda pago para que pessoas entrem na universidade baseadas na cor da pele.
Nada mais me surpreende.  Vejo a hora que serei impedido de andar de ônibus porque não tenho a cor de pele correta.  De receber bolsa de estudos, de conseguir financiamento de casa própria... já sou impedido de entrar em algumas academias de ginástica porque sou homem.  Imagine se eu abro uma escola e impeço alguém de entrar porque é mulher ou porque não é branco?


Eu me orgulhava de ser assim
Eu nunca classifiquei ninguém pelo físico.  Sempre disse que a única classificação que aceito é o caráter.  Só que demora um pouco para fazer essa classificação.  Eu tenho meus métodos.
Lembro-me de uma história: quando eu tocava chorinho, no conjunto, nós éramos como uma família, cinco amigos cujas mulheres se conheciam, frequentávamos as casas uns dos outros, nossos filhos brincavam juntos, era uma festa sempre.  Um belo dia apareceu um bandolinista, que foi incorporado ao conjunto.  O cara logo se tornou nosso amigo também, era (ainda é, pois eu ainda mantenho contato com ele) uma pessoa excelente, bom caráter, divertido, ótimo músico, enfim, entrou para a família.  Um dia ele estava dizendo que era tudo de ruim - nas palavras dele - "Preto, funcionário público, suburbano, secundarista..."


Tomei um susto!  Juro que nunca tinha percebido que ele era preto!  Eu nunca havia olhado para a pele dele, eu sempre o vi através da pele.  Era, e ainda é, uma pessoa de quem eu gostava muito, um grande amigo pelo qual eu faria qualquer coisa ao meu alcance, assim como faria por qualquer outro dos meus amigos, independente de serem brancos, pretos, azuis ou verdes.  Independente de acreditarem ou não em uma divindade qualquer.  Independente do que carregam no meio das pernas, ou da idade, ou do que tenham estudado.


Será que eu vou mudar?  Se você me perguntar se eu tenho algum aluno branco, preto, verde, marrou ou cor-de-rosa, eu não saberei dizer.  Pra mim, todos são azuis.  Será que, algum dia, eu vou tratar diferentemente os alunos pela cor da pele?  A lei me outorga esse direito, pois ela mesma o faz.  Quem sou eu, para ir contra a lei?  Se a descumpro, estou sujeito às penalidades previstas.  Então, ao cumprir a lei, eu devo tratar diferentemente pessoas com diferentes cores de pele.  Pra mim, pelo menos agora, vai ser difícil.  


Será que um dia eu vou achar isso fácil?