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Da Paraíba para o mundo, com amor:

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Outra perda - Arnaud Rodrigues

Urubu tá com raiva do boi, e eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo comer, mas o boi não quer morrer
Não tem alimentação
Urubu tá com raiva do boi (Baiano e os Novos Caetanos)

Eu normalmente não gosto de humoristas. Acho que a maioria do humor no mundo é escrachado demais, apoia-se em expedientes rasteiros como palavrões, clichês e piadas preconceituosas sobre raça, orientação sexual, cor da pele ou origem das pessoas. Pouquíssimos são os humoristas que conseguem escapar dessa praga, e Arnaud Rodrigues era um deles. Acho que ele nem era humorista mesmo, era um cara muito inteligente que tinha bom humor. Resolvia algumas falhas do Chico Anísio, que é quase tão inteligente quanto ele.

Pois o Arnaud Rodrigues, que compôs com o Chico Anísio a dupla de músicos mais descolada que já aconteceu na música brasileira, morreu no final deste carnaval, afogado em um estúpido acidente de lancha. Mais uma grande perda para a música brasileira. Assim, só vão sobrar os Beatles...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Um post recondicionado

Uma vez eu escrevi sobre o carnaval neste blog. Todo ano eu tento escrever mais, mas sempre acabo achando que o post original disse tudo, então eu coloco link pra ele. Hoje eu vou fazer diferente: vou colocar o post inteiro aqui, veja só:

Lembranças do carnaval

Um post de 02/03/2006

Gostar é uma coisa, participar é outra

"Findo o carnaval, nas cinzas pude perceber
Na apuração perdi você (pois é, dancei)"
Jorge Aragão (Enredo do meu samba)

Eu adoro carnaval. Acho uma época fantástica, o clima de alegria, a descontração e a animação país afora. São feriados de muito calor, dá uma impressão de irresponsabilidade, as pessoas parecem mais felizes e tudo é colorido, livre, solto. Eu acho o carnaval a festa da esbórnia, por excelência. E é. Afinal, essa era a grande festa pagã da carne (a carne vã, carneval, carnaval) que foi adotada pelo cristianismo, para marcar o início da quaresma, época de jejum e penitência em que se deveria fazer uma reavaliação da vida, muita oração e uma outra festa no final, de renascimento, a páscoa.

Cada um aproveita como prefere

''Tomara que chova três dias sem parar, tomara que chova três dias sem parar
A minha grande mágoa é lá em casa não ter água, eu preciso me lavar"
Paquito (Tomara que chova)

Sempre no carnaval eu durmo muito, bebo razoavelmente (não sou de encher a cara, mas gosto muito de cerveja), faço meus churrascos, assisto uns filmes, às vezes estudo um pouco - meu novo desafio é a linguagem PHP, para melhorar meu site - enfim, tudo menos samba e suor. Nem assisto ao desfile das escolas de samba pela TV, prefiro alugar um DVD e ficar analisando os extras. Neste ano eu tentei conseguir a série "Kingdom Hospital", do Stephen King, mas não encontrei em lugar nenhum. Êta, cidadezinha pobre, essa minha. Além disso a minha filha mais velha resolveu ir aos bailes em um clube e eu tive que levar e buscar depois, nada que tenha me deixado revoltado. Enfim, carnaval pra mim é descanso, moleza, preguiça...

Atualização de 2010: A Tica foi pro RN curtir o carnaval. Se ela quiser ir a algum baile, já tem mais de 18 anos e carro, não preciso mais levar e trazer. A Teca está em casa e não vai sair porque também não gosta de carnaval. Eu fico trabalhando em um artigo para publicar no próximo mês. Ainda bem que tem internet e TV a cabo.

Mas já não é o mesmo

"Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções"
Carlos Lira/Vinícius (Marcha de quarta-feira de cinzas)

Só que agora o carnaval mudou muito. Já não se ouvem músicas 'de carnaval', a violência é uma preocupação constante, o modelo exportado de micaretas, bicaretas, picaretas pelo país afora e em épocas diferentes do ano. Virou uma indústria de milhões, como quase tudo o mais por aí. Já se foi a época em que era uma brincadeira inocente na rua, com bandinhas tocando marchas e as crianças enchendo a boca dos outros de confetes. Hoje a festa é profissional, planejamento, cordão de isolamento, desfile, som, iluminação, segurança (?), TV, transmissão. Hoje o carnaval não é mais festa, é investimento.

Culpa dos cariocas

"Enquanto a malandragem fazia a cabeça
O indicador do defunto tremia"
Bezerra da Silva (Defunto caguete)

Os cariocas se julgam 'donos' do carnaval, mas na minha humilde opinião são os responsáveis pelo início da esculhambação da festa. Tá, você pode argumentar que carnaval é, por definição, uma festa esculhambada, mas organizar esculhambação já é demais. Eu não concordo com o luxo das 'escolas de samba' (pô, precisa escola pra samba? E aquela máxima que diz que samba não se aprende na escola?!?), dos seus desfiles cheios de regras, competição com notas em que se contam centésimos de pontos, campeonato, plumas, paetês, propinas de empresas estrangeiras e orçamentos milionários. Além disso, todo esse esquema está nas mãos de traficantes, todo mundo sabe disso. Tráfico é crime organizado, muito mais organizado do que o nosso governo eleito. Tráfico é violência, morte, degradação. É isso o carnaval carioca, uma interface bonita para o lixo do Rio. Parece até o windows.

Culpa dos baianos

"Todo dia é de festa na Bahia
E o trio irradia alegria
Farol ilumina Salvador"
Netinho (Beijo na boca)

Cada um tem o carnaval que merece. Na Bahia apereceu a praga do axé, mistura indigesta dos ritmos afro-brasileiros com a mixórdia afro-espanhola do caribe. Ou seja, uma coisa inventada que ninguém mais sabe de onde veio nem pra onde vai (acho que eu ainda estou falando do windows...). Passa longe do samba. Foi exportado com os trios elétricos para todo o país, virou coisa de gente grande (grande de grana) e tomou conta. Agora até no Rio se faz carnaval com axé. Pior: os defensores de outros ritmos e estilos resolveram também botar as mangas de fora e o carnaval assumiu ares regionais: com raggae no Maranhão, com boi-bumbá no Pará, e sabe-se lá mais o que. Falta um carnaval em Mato Grosso do Sul com polca e chamamé, até que ia ser interessante...

Culpa da TV

"Porque o samba nasceu lá na Bahia, e se hoje ele é branco na poesia
Se hoje é branco na poesia, ele é negro e demais no coração"
Baden Powel/Vinícius (Samba da bênção)

Samba? Que nada! Já se foi o tempo. Não é samba o que se toca nos desfiles, nem nas fesas, nem nos clubes ou nas ruas. Arremedo do que já foi "o" ritmo do Brasil e do carnaval. O carnaval já não é festa popular, é festa da TV, dos políticos, dos camarotes, dos gringos, dos bandidos, das grandes empresas, das bichas, dos trios eléticos, dos computadores, da grana. O carnaval já foi. Agora é dormir, tomar cerveja e assar churrasco, que é melhor.

Culpa minha

"Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 76
Eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês"
Belchior (À Palo Seco)

Parece que eu vivi há cento e tantos anos a glória e a inocência dos passados carnavais e tive um surto de saudosismo, mas a verdade é que eu nunca gostei de bailes de carnaval. Não por isso nem aquilo, é que eu não gosto de nada que reúna muita gente. Quem me conhece sabe que eu sou meio eremita e estou piorando a cada ano. Gosto da solidão, me sinto bem comigo mesmo e a companhia de seres humanos cada vez menos me faz falta. Assim, nunca fui entusiasta de carnaval, mas eu gosto da idéia da coisa. Tá, não vou negar que já fui a festas, na minha adolescência e até depois disso, mas nunca me entusiaismei com a idéia. Ia, pra não parecer diferente do resto do mundo, ia na turma, mas achava aquilo tudo muito esquisito, muita gente suando e fedendo, uma briga ali, uma maconha aqui, um bando de machos loucos procurando mulher ou confusão... eu saía sempre sozinho, cansado, sujo, desgostoso. Quando eu descobri que eu não precisava IR no carnaval para ser normal foi a glória. Eu podia arrumar namorada de outro jeito. Eu podia me divertir ou até curtir o carnaval de outras formas. E sou assim até hoje. E estou piorando.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Adeus, Pena Branca! (Atualizado)

A tua saudade corta feito aço de navaia
O coração fica afrito, bate uma, a otra faia
E os óio se enche d'água...
Que até a vista se atrapaia.
Cuitelinho (Folclore do Pantanal)

Morre um dos últimos representantes da legítima música caipira brasileira. Sem a choradeira e a dor-de-corno dos sertanojos que se dizem músicos, mas que nunca viram uma partitura na vida. Que se dizem sertanejos mas nunca viram uma vaca de perto. Pena Branca e Xavantinho eram músicos "de raiz", músicos radicais, que cantavam a simplicidade e a vida do campo. Sem afetações, sem copiar country americano, sem palhaçada.

Gravaram coisas históricas como O Cio da Terra, Calix Bento e Cuitelinho, canções que nem caipira são, mas que tomaram o jeito caipira na voz da dupla. Chamá-los de "sertanejos" é uma desonra. Uma afronta. Eram caipiras, sim, de boa cepa, puros de origem e orgulhosos da música que faziam. Não ficaram ricos, mas fizeram um Brasil mais rico, em sua cultura, em sua diversidade, em seu povo.

É realmente uma pena. Aos poucos, infelizmente, nossa música vai perdendo o que tinha de melhor, às custas da ganância de alguns desclassificados que enfiam goela abaixo da moçada os gêneros importados. Aqui no nordeste, onde imperava o forró pé-de-serra, vejo com pesar a invasão do sertanojo, da pior qualidade. Ainda se ouve forró dos bons, mas só em locais freqüentados por corôas ou turistas.

Por outro lado, volto a escrever aqui o que já afirmei em outro post (agora não me lembro e estou com preguiça de pesquisar)*: a música Cuitelinho é do folclore do Pantanal, que fica no Mato Grosso do Sul (a melhor parte dele, pelo menos). Veja no mapa, se duvida.


Atualização: Achei o post que fala da música.