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quarta-feira, 28 de junho de 2006

Dentista bom!

"Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair... Deus lhe pague"
Chico Buarque (Deus lhe pague)

Eu gosto muito do Rolando Boldrin. Acho que ele tem talento e verdadeiro amor pelas coisas da terra, pela música e pelas pessoas. Assisto sempre ao programa dele, Sr. Brasil, que passa na TV Cultura, mas nunca me lembro do dia nem do horário, de forma que, às vezes, zapeando, eu topo com ele e assisto até o fim.

Ontem foi um dia desses, e ainda teve uma coisinha a mais: ele cantou uma música de sua autoria, cuja letra eu achei e transcrevo aqui (calma, eu vou falar coisas relevantes sobre essa música):

Moda do dente
(Rolando Boldrin)

Tava me alembrando agora, do tempo que eu fui banguela
Boca murcha repuxada, sem sorrir para as donzela
Ai moço que coisa triste, é ter a boca vazia
A gente não tem mais gosto, nem de puxar cantoria

O destino caprichoso, um castigo quis me dar
Eu fui medir força bruta com um baita dum marruá
Ele me apinchou no chão, bati feio em terra suja
Quebrei a cara inteirinha e os denti foi di lambuja

Tô com a boca consertada, graças ao doutor Mateu
Dente emriba dente embaixo, mió que os que Deus me deu
Nem cobrou pelo serviço, entendendo a situação
Sem cantar eu me matava, cantar banguela é que não

Hoje eu tô mais bonitinho, me falou a Graziela
Pois in ante era pouquinho o que eu sorria prá ela
Agora que nem criança, nós gargaia nos namoro
E se rendê as poupança, eu implanto um dente de ouro

Se a gente prestar atenção, o personagem/narrador da história tem verdadeiro apreço por seus dentes, tanto que ficou muito triste por tê-los perdido, perdeu até o gosto por puxar cantoria. Só depois de ter a boca 'consertada' pelo Dr. Mateu é que ele voltou a ser feliz, com dentes até melhores do que deus havia lhe dado - e aqui eu me pergunto o quanto ele havia cuidado desses dentes para achar que uma dentadura de acrílico ficou melhor.

Mas o detalhe que me chamou atenção foi que o Dr. Mateu "nem cobrou pelo serviço", ou seja, a brincadeira ficou de graça pro violeiro. Êta, dentista bom! Sim, porque dentista bom é aquele que vive de brisa: quando está com fome sai lá fora, abre a boca e se alimenta do ventinho fresco da manhã, ou do mormaço da tarde. Quando precisa de roupa é só sair de casa que o vento se encarrega de vesti-lo. O mesmo vale para a mulher e os filhos desse dentista.

E, no final, feliz com a dentadura nova, o violeiro ainda guarda dinheiro para implantar um dente de ouro. Para fazer a boca funcionar ele não tinha dinheiro, mas para embelezar a plataforma ele faz poupança. É triste ver como a minha profissão é execrada pela população em geral. Quando me formei eu achei que ingressava em uma profissão digna, onde eu poderia ajudar as pessoas, sanar suas dores, permitir que um melhor funcionamento da boca melhorasse a alimentação, melhorar sua aparência e me sustentar com meu trabalho. Mas o que eu vejo é que o dentista só é valorizado quando "faz de graça". Nem a uma prostituta se pede tanto.

Hoje eu ouvi de uma colega que eu cobro caro. Ora, eu estudei a minha vida toda, graduação, mestrado, doutorado, sou professor de cursos de graduação e pós-graduação, pesquisador, tenho clínica há quase 20 anos... Raios, se achou caro, procure outro!

Irra!

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