Normas

Da Paraíba para o mundo, com amor:

Todo o material publicado nesta página representa o ponto de vista parcial e preconceituoso de um indivíduo do século passado. Se você achar aqui afirmativas que lhe pareçam sexistas, xenófobas, racistas ou, de qualquer outra maneira, ofensivas a seus pontos de vista, pare de ler imediatamente. Ou prossiga, a seu próprio risco. Ou não.

Use antes de agitar: leia as normas do blog e lembre-se: comentários são moderados. Anônimos não serão publicados.

E aproveite que eu sou professor: se você achar que eu posso ajudar, mande um e-mail para mrteeth@ghersel.com.br

quarta-feira, 8 de março de 2006

Sotaques

"Na beira da lagoa foram ensaiar, para começar, o tico-tico no fubá
A voz do pato era mesmo um desacato"
João Gilberto (O pato)

Já que me acham ranzinza mesmo, eu vou reclamar mais: ontem ouvi um músico, desses de bar, cantando a música "Cuitelinho". Essa música, pouca gente sabe, é originária do folclore do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Da região sul do pantanal - e pra quem não sabe também, o pantanal fica muito mais em Mato Grosso do Sul (3/4) do que no Mato Grosso. Pois cuitelinho, para os pantaneiros da região do Nabileque e da Nhecolândia, é o nome pelo qual é conhecido o beija-flor. O detalhe é que essa região fica na fronteira do Paraguai, onde o sotaque é muito particular, principalmente a pronúncia das vogais fechadas, fazendo com que a palavra soe "cuitêlinho" (claro, é uma palavra paroxítona, eu coloquei o acento só para indicar a pronúncia do ê, fechado).

Só que, um belo dia, um certo Paulo Vanzolini, aquele mesmo, autor de Ronda (de noite, eu rondo a cidade, a te procurar, sem encontrar...) achou a música bonita e saiu por aí cantando. Xavantinho e Pena Branca gravaram. Milton Nascimento gravou. Em ambas as gravações, no crédito da música, aparece: "Recolhida por Paulo Vanzolini". Peraí: recolhida de onde, cara pálida?

Mas o pior não é isso: o pior é que tanto Xavantinho e Pena Branca como Milton Nascimento imprimiram um sotaque do norte de Minas, fazendo o 'cuitêlinho' virar 'cuitélinho'. Como a música ficou relativamente famosa nessas vozes, até o povo daqui de Mato Grosso do Sul agora canta assim, 'cuitélinho'.

Então, só pra confirmar as raízes da canção, vou colocar aqui a letra, coisa que não costumo fazer.

Cuitelinho
Folclore do Pantanal de Mato Grosso do Sul

Cheguei na beira do porto, onde as ondas se espaia
As garça dá meia vorta e senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia

Quado eu vim de minha terra, despedi da parentaia
Eu entrei no Mato Grosso, dei em terras paraguaia*
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia

A tua saudade corta feito aço de navaia
O coração fica afrito, bate uma a outra faia
E os óio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia

* Sobre esse verso existem duas curiosidades: a primeira é que, há 28 anos atrás, o estado de Mato Grosso foi dividido e, dessa divisão, criou-se o estado de Mato Grosso do Sul. Até hoje tem gente que não sabe que são dois estados e confunde tudo. A segunda é que Xavantinho e Pena Branca não gostavam de cantar a letra, que diz 'dei em terras...', eles achavam isso feio. Eles eram machos pacas!

Nenhum comentário: