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quinta-feira, 23 de março de 2006

Sobre meninos e lobos - prólogo

"Era uma vez um lobo mau
Que resolveu jantar alguém"
Wilson Simonal (Lobo bobo)

Todo homem tem um lobo dentro de si. A maior parte dos homens consegue manter seu lobo na jaula a maior parte do tempo, mas lobos são complicados, selvagens, precisam de um passeio, de de vez em quando. Normalmente alguns minutos fora da jaula, durante um jogo de futebol, uma pescaria ou uma simples reunião com amigos é suficiente para os lobos ficarem satisfeitos e voltarem plácidos às suas jaulas, mas isso não significa que eles ficarão quietos até a próxima semana.

Às vezes o lobo escapa. Pode ser por um pequeno descuido, por um motivo aparentemente pífio, alguém se esqueceu de dar a segunda volta na chave e, depois de muito provocado, um pequeno esbarrão na jaula faz a porta se abrir e o bicho sai. E sai fazendo estragos, grita palavrões, quebra os móveis, às vezes até morde alguém que está perto. Depois volta pra jaula de novo, deixando seu dono em uma situação complicada: explicar como aquele bicho selvagem apareceu no meio da festa e fez aquela confusão toda.

Lobos são incontroláveis. Você pode ver o bicho dentro da jaula, dormindo, e achar que é só um cachorro crescido, mas ali está algo com um poder explosivo que poucos compreendem. Acalmar lobos e satisfazer sua necessidade de selvageria é coisa que demanda muita energia, uma boa dose de coragem e tempo. Lobos precisam sair, quebrar coisas, bater, morder, mijar nas árvores e uivar com outros lobos. Lobos solitários deixam, muitas vezes de ser lobos para se tornar um híbrido de avestruz e carneiro. Um bicho que não rosna, não morde e não uiva, e ao menor sinal de perigo enfia a cabeça em um buraco no chão.

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