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terça-feira, 25 de abril de 2006

Sobre as letras das músicas

"Este post não vai ter o costumeiro preâmbulo musical
Porque, claro, vai falar de música o tempo todo"
Mr. Teeth

Ou: porque eu acho o Chico o máximo!

Eu, que sou músico diletante (putz, eu adoro quando consigo colocar uma palavra assim, chique, no texto), presto muita atenção nas letras das músicas. E acho que letra boa é aquela que combina com a melodia e que consegue dizer alguma coisa. Só por esse último critério, Djavan está limado. As letras dele combinam, mas não dizem nada, ninguém entende nada, parece até que ele não escreve em português. Por outro lado, letras absolutamente simplistas também são irritantes, veja só:

"É isso aííííííííí... Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa, quase sempre."

Tá, tem muita gente que gosta dessa música que a Ana Carolina canta (não sei quem é o autor, nem me dei ao trabalho de procurar), mas leia a letra atentamente. Não diz nada. Eu li o resto e diz tanto quanto essa parte. Fora o aíííííí espichado, no final da frase, que é recurso de música sertaneja. Pior, não pode haver. Mas tem mais, tem muito mais. Eu sei, música ruim tem em todo lugar, mas está ficando insuportável:

"Não vou mudar, esse caso não tem solução
Sou fera ferida, no corpo e na alma e no coração."

Essa é até melhorzinha, mas o que torna uma letra realmente boa é o uso das palavras de forma criativa. Letra de música não é poesia, um dos poucos poetas que se deu bem fazendo letra foi o Vinícius, mas isso já é covardia. Dizer que é "fera ferida" e etc é puro lugar-comum. Compare com o que o Chico fez com essas palavras (de novo, lembre da música, se não não tem graça):

"Quem que te mandou tomar conhaque
Com o tíquete que te dei pro leite"

Uau! Poucas e curtas palavras formando uma verdadeira batucada vocal. Uma frase banal, que passaria despercebida em qualquer poema, poderia até ser taxada de boba, na música vira uma coisa completamente inusitada, surpreendente. Na mesma linha, tem do Geraldo Pereira, sambista das antigas, uma música chamada "Escurinho", quem conhece vai se lembrar da estrofe final:

"Já foi no morro do Pinto
Acabar com o samba"

As palavras marcam a música como se fossem percussão. É pura inspiração. Mas o meu verso preferido é mesmo do Chico, na música "Tatuagem", que eu já usei mais de uma vez aqui:

"Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo, em carne viva"

Pronto. Quem mais, neste mundo, teria coragem de combinar assim essas palavras para falar de amor?

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