"E num acidente da sorte, morreu num incêndio famoso
Em close voando pra morte, como o sucesso é gostoso"
Oswaldo Montenegro
A odontologia deixou de ser feitiçaria e passou a ser ciência graças a homens que dedicaram suas vidas a ela. O primeiro fez com que o tratamento odontológico passasse de tortura a suportável, inventando a anestesia. Antes de Horace Wells, e sua descoberta de 1844, os pacientes tinham que ser amarrados à cadeira e, muitas vezes, tinham a sorte de desmaiar durante o procedimento. Quando Wells descobriu que o óxido nitroso eliminava a dor sem matar o paciente (desde que administrado corretamente), abriu as portas de um novo mundo.
Mas, naquele tempo, tratamento odontológico era extração. Ou melhor, tudo o que um dentista fazia era "arrancar" dentes, literalmente. O definitivo avanço da odontologia rumo à ciência foi feito por Black que, em 1908, definiu as bases do preparo cavitário. Isso permitiu que um dente cuja cárie ainda não havia atingido a polpa (o "nervo") fosse restaurado. Black descreveu diversos tipos de preparo e os classificou, permitindo que um dentista removesse o tecido cariado, esculpisse uma cavidade com princípios rígidos de forma e restaurasse o dente. A união dos trabalhos de Wells e Black tirou a odontologia das mãos dos curandeiros e a entregou a cientistas. Esses homens fizeram a história.
O problema é que hoje tem gente que pensa que com um pouco de criatividade é possível chegar nesse nível. O cidadão estuda um pouquinho, vai pra um laboratório (conseguiu entrar puxando o saco de algum figurão) e descobre a roda! Ele se propõe uma teoria, passa a acreditar nela e quer convencer todo mundo disso, ele acha que vai entrar para a história da odontologia. Ele acha que descobriu um jeito de fazer nascer pêlo em ovo, ou de fazer adulto crescer. Ele quer o sucesso, a qualquer custo.
Não é assim. Wells e Black estudaram a vida toda e levaram a vida toda para renovar a ciência. Eram cientistas de fato. Dedicaram-se de corpo e alma a isso, prejudicando suas vidas particulares, seus relacionamentos, sua intimidade. Fizeram inimigos, pisaram em muitos calos, mas inscreveram seus nomes no livro da história da humanidade.
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