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segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Casos de um doutorado IV

O susto - Onde é que eu fui me meter?

Eu já citei o Zero por aqui. Pois da segunda vez que eu fui a Sampa eu já era amigo do Zero e morava com ele na república. Lá também moravam o Marcos e o Glauco, dois cariocas que, como eu, tinham casa e família em outra cidade e só iam a SP nos dias de aula. Eu não os conhecia e o Marcos acabou aparecendo na terceira semana. Ele é um alemão alto e branquíssimo, olhos azuis e espírito de menino. Um dos maiores cientistas que eu conheci naquela faculdade. Chegou no departamento, nos conhecemos, combinamos cerveja e pizza depois da aula, claro.

Saímos os três juntos da facu, íamos a pé para casa, mas no caminho atravessávamos um terreno baldio, mato alto, ainda dentro do campus, mas bem deserto e isolado. Lá no meio desse terreno o Marcos chama a atenção do Zero:
- E aí, vamos?
- Você trouxe?
- Tá aqui!

Eles praticamente sussurravam, com aquele ar de coisa proibida, enquanto o Marcos tirava da maleta uma sacola de supermercado amarfanhada, no maior segredo. Eu pensei com os meus botões: "Putzgrila, onde eu fui me meter? O que é que esses caras vão aprontar?
De dentro da sacola apareceu uma garrafa de refrigerante PET de 500ml. Dentro da garrafa, pedras de gelo seco. A garrafa foi passada ao Zero, que fez xixi dentro. Tampou a garrafa, jogou longe e saiu correndo feito louco. Eu e o Marcos atrás. Eu ainda não sabia o que estava acontecendo quando ouvi: BUUUUUUUM!

O gelo seco, em contato com água (ou outro líquido similar) vaporiza, a garrafa fechada cria pressão e explode, fazendo um barulhão e espalhando o líquido pra todo lado. Era uma ação terrorista, eu participara sem saber, ainda correndo com o coração a mil e rindo até perder o fôlego. Depois fomos para casa, ainda ofegando, eles me contando as histórias de outras bombas, uma que eles colocaram embaixo de um tijolo que sumiu depois da explosão, outra que explodiu antes do tempo e eles saíram molhados (sabe do que...), uma que até hoje não explodiu. Depois, como combinado, cerveja e pizza. Não há pizza como a de São Paulo. Não há cerveja como a que a gente toma com os amigos. O Marcos é um amigo de quem eu tenho saudades, não o vejo há tempos, mas não me esqueço dele.

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