Era ser dono do meu nariz
Arnaldo Antunes (Autonomia)
Ontem, em conversa com os colegas. Discutia-se, em uma animada roda em torno de uma churrasqueira acesa e devidamente abastecida por número bastante e suficiente de espetos, sobre o papel do professor. Devo confessar que alguma cerveja lubrificava nossas normalmente tão conspícuas mentes...
O cerne da discussão seria a possibilidade de auto-avaliação pelos alunos - argumentava-se que nenhum aluno em sã consciência admitiria que foi insuficiente seu desempenho em uma disciplina e merecia ser reprovado, repetindo-a. Assim, alunos absolutamente incapazes seriam aprovados e nós estaríamos colocando no mercado* alguns maus profissionais. Foi então que um dos envolvidos fez a seguinte pergunta:
- Qual é o seu papel como professor?
Bela pergunta, cara-pálida. Como respondê-la? Por acaso é papel do professor filtrar maus profissionais? Por acaso é responsabilidade nossa impedir que estes cheguem ao mercado? Teremos mesmo a missão de depurar a turba que, ano após ano, consegue penetrar os insondáveis mistérios do vestibular e assoberbar as escolas? As conclusões foram, no mínimo, esclarecedoras:
No ensino superior, espera-se que o aluno tenha consciência e maturidade para procurar seus próprios caminhos. Cabe ao professor disponibilizar a informação e facilitar o acesso a esta. Professor não ensina. Não se pode enfiar a informação goela abaixo do aluno. Disponibilizamo-la e ele, se achar por bem fazê-lo, assimila. Já é uma tarefa árdua essa, já é difícil e complicado, sem ter que ficar pensando se aquele aluno será ou não um bom profissional. Para filtrar maus profissionais existem órgãos competentes (ou nem tanto) como os CRO's da vida. A nós, professores, cabe tentar fazê-los compreender que só através do conhecimento é que se pode melhorar. Nos cabe estimular e inspirar o aluno, não segurá-lo dentro da universidade além do que ele quer ficar. Cada um que encontre o seu caminho. Quem entra lá pode sair um ótimo ou um péssimo profissioanal, independente de ter bons ou maus professores. Só depende dele.
* Notem, estimados leitores, que eu capitulei e acabei reconhecendo que a Odontologia virou, mesmo, um comércio desavergonhado. Assim, nada mais coerente do que chamar de "mercado" o ambiente em que trabalhamos. Se é pra vender coisas que o cidadão nem sequer sabia que desejava, que seja algo decente, pelo menos.
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